
Não é miragem, não. Quem anda pelo centro de Belém nos últimos anos percebe uma mudança triste, quase palpável. O número de pessoas vivendo nas ruas — sim, aquelas que a gente às vezes evita olhar nos olhos — explodiu. E não é pouco não.
Pesquisa recente, das que fazem a gente coçar a cabeça e suspirar fundo, mostrou que em apenas oito anos a quantidade de seres humanos nessa situação de vulnerabilidade absoluta aumentou nada menos que 500%. É isso mesmo: cinco vezes mais.
De 2015 pra cá, a coisa degringolou feio. Os números saltaram de um patamar já preocupante para algo que beira o caos humanitário. E olha, a gente não tá falando de estatística fria não. São rostos, histórias, vidas inteiras amontoadas em calçadas, debaixo de marquises, tentando sobreviver a mais um dia.
Mas por que Belém? O que está acontecendo?
Os especialistas, esses que vivem de decifrar nossos dramas urbanos, apontam várias razões. A crise econômica que bateu forte no Norte do país, sem dúvida, é uma das vilãs. O desemprego — aquele inimigo silencioso que destrói famílias — empurrou muita gente para a marginalidade. Soma-se a isso a falta crônica de políticas de habitação popular e a deficiência gritante na rede de apoio social.
Não é só falta de teto, viu? É um emaranhado de problemas. Doença mental, dependência química, famílias desestruturadas… uma combinação explosiva que joga gente pra fora do sistema.
E a prefeitura, o governo… o que fazem?
Boa pergunta. A verdade é que os serviços existentes, ainda que bem-intencionados, parecem estar nadando contra uma correnteza cada vez mais forte. Abrigos superlotados, programas de reassentamento que não dão conta da demanda, e uma sensação geral de que a máquina pública está sempre dois passos atrás do problema.
Alguns gestores públicos até tentam — juro que tentam — mas é como enxugar gelo. A realidade é teimosa e cruel. Enquanto isso, nas esquinas, a vida real se desenrola com uma dureza que envergonha qualquer um de nós.
É revoltante? É. Assustador? Muito. Mas o pior de tudo é que virou paisagem urbana. A gente se acostuma, normaliza o inormalizável. E aí, meu amigo, é que mora o perigo maior ainda: a indiferença.