
Era pra ser mais uma terça-feira comum, dessas que a gente mal vai se lembrar no mês seguinte. Mas o dia 16 de setembro de 2025 ficou marcado a ferro e fogo – literalmente – na vida de uma técnica de enfermagem de 34 anos. Ela não era o alvo. Apenas mais uma peça no tabuleiro violento da criminalidade que assombra a Baixada Santista.
O cenário? Uma movimentada rua do bairro da Ponta da Praia, em Santos. De repente, o silêncio foi estilhaçado por rajadas de tiros. Uma verdadeira guerra urbana, daquelas que a gente só vê em filme – mas que, infelizmente, virou rotina em alguns cantos do país.
“Ouvi os disparos e já me joguei no chão instintivamente. Mas não deu tempo. Senti um calor intenso na perna, como se alguém tivesse colocado um ferro em brasa na minha carne”, relata a vítima, que preferiu não ter o nome divulgado por medo de represálias. O medo, aliás, é uma sombra constante desde aquele dia.
O Alvo Era Outro
Tudo indica – e as investigações corroboram – que o alvo principal era um ex-delegado da Polícia Civil. Um homem que, aparentemente, carregava inimigos poderosos. A técnica de enfermagem? Daninho colateral. Um estrago humano em uma conta que não era dela.
Ela foi atingida por um dos projéteis na perna direita. A sorte – se é que podemos chamar assim – é que o ferimento não era fatal. Mas as marcas? Ah, essas vão muito além da cicatriz física.
O Trauma que Não Saira
“Até hoje, qualquer barulho mais seco me faz saltar. Um escapamento estourado, uma porta batendo com força… é instantâneo. Meu coração dispara, as mãos suam e eu volto para aquele asfalto”, desabafa. A sequela psicológica é, talvez, a pior parte. A fisiológica dói, incomoda, limita. A mental aprisiona.
Ela passou por cirurgia, está em recuperação, mas o processo é lento. Doloroso. E solitário. Como se a sociedade esperasse que ela simplesmente “superasse” por não ter sido a vítima principal. Como se o trauma fosse hierárquico.
Investigaciones em Andamento
A Polícia Civil não revelou muitos detalhes sobre o andamento do caso. Investigam pistas, buscam os executores e, claro, quem mandou fazer o trabalho. Especula-se na região que o atentado está ligado a acertos de contas do crime organizado – uma praga que teima em assolar o litoral paulista.
O ex-delegado, o tal alvo principal, sobreviveu. Também foi baleado e hospitalizado. Ninguém foi preso até o momento. O clima na região é de tensão silenciosa. Todo mundo sabe de algo, mas poucos falam. O medo é um cão raivoso e faminto.
Enquanto isso, uma técnica de enfermagem tenta reconstruir a vida entre sessões de fisioterapia e pesadelos recorrentes. Sua história é mais um grito abafado no corredor da violência brasileira. Um lembrete mudo de que, na guerra ao crime, são sempre os inocentes que sangram primeiro.