Morre aos 88 anos o juiz conhecido como 'o mais gentil do mundo' — uma perda para a justiça e para a humanidade
Morre Frank Caprio, o 'juiz mais gentil do mundo'

O mundo jurídico — e, quem somos nós para negar, o mundo como um todo — ficou mais cinza nesta segunda-feira (26). Frank Caprio, aquele juiz que você provavelmente viu em vídeos virais tratando cada réu como um ser humano e não como um número num processo, partiu. Tinha 88 anos. Um coração daqueles não para de bater sem deixar um vazio colossal.

Não foi uma carreira qualquer. Caprio, filho de imigrantes italianos, entrou para a história não por sentenças duras, mas por entender que atrás de cada infração há uma história. Às vezes, uma história de puro desespero. Ele presidiu o Tribunal Municipal de Providence, em Rhode Island (EUA), durante décadas, e seu programa "Caught in Providence" mostrou ao planeta que a justiça pode, sim, ter rosto humano.

O homem por trás da toga

O que fazia dele diferente? Ora, tudo. Enquanto muitos juízes se escondem atrás de leis e procedimentos, Caprio encarava os olhos das pessoas. Perguntava "está tudo bem?", "precisa de ajuda?", "o que realmente aconteceu?". Parece básico? No sistema judicial americano — e em muitos outros —, essa era uma revolução silenciosa.

Seu irmão, Joseph, confirmou a notícia com um aperto no coração. Frank não estava bem de saúde há algum tempo. A causa da morte? Não foi divulgada, e talvez nem importe. O que fica é o legado de um homem que desburocratizou a compaixão.

Um jeito único de fazer justiça

Lembram-se daquela cena clássica em que ele perdoa a multa de uma mãe solo porque ela estava levando o filho ao médico? Ou quando deixou uma criança "sentenciar" o próprio pai? Pois é. Esses momentos não eram espetáculo. Eram a essência de uma filosofia simples: tratar os outros como você gostaria de ser tratado.

"A justiça precisa ser temperada com misericórdia", ele dizia. E vivia isso. Nas suas audiências, era comum ver réus saindo não apenas com uma penalidade reduzida, mas com um conselho, um abraço ou, no mínimo, a sensação de que alguém lá no sistema ainda se importava.

Além do tribunal: a vida pessoal de um ícone

Frank Caprio não era só isso. Era marido, pai de cinco filhos, avô de nove netos. Um homem de família, criado num bairro operário, que nunca esqueceu suas raízes. Formou-se em Direito pela Suffolk University e, mesmo após se aposentar da chefia do tribunal em 2023, continuou sendo uma voz ativa por uma justiça mais humana.

Seu impacto foi tão grande que transcendeu fronteiras. Aqui no Brasil, vídeos dele rodavam nas redes sociais — sempre com comentários do tipo "precisamos de juízes assim por aqui". E não é que precisamos mesmo?

A morte dele não é só a perda de um magistrado. É o fim de uma era em que acreditávamos que até as instituições mais rígidas poderiam abrigar um pouco de calor humano. Vai fazer falta, juiz. Uma falta danada.