
Quem vê a foto atual do ex-lobista R.S. — nome preservado por questões legais — dificilmente acredita que se trata da mesma pessoa que, menos de um ano atrás, circulava pelos corredores do poder em Mato Grosso com ternos caros e ar de quem mandava. Oito meses de prisão transformaram esse homem em uma versão esquelética de si mesmo, um fantasma do que foi um dia.
O caso, que virou assunto nos gabinetes do Fórum de Cuiabá, revela muito mais do que a deterioração física de um acusado. Expõe as entranhas de um esquema que, segundo o Ministério Público, "vendia sentenças como se fossem mercadorias no balcão de uma loja".
Da ostentação ao cárcere: uma queda vertiginosa
Antes da prisão, R.S. era figura conhecida nos círculos políticos e jurídicos. Frequentava restaurantes finos, dirigia carros de luxo e — pasmem — chegou a postar fotos em redes sociais com juízes que, ironicamente, depois assinaram sua prisão. "Ele tinha acesso a todos", conta um servidor do tribunal que prefere não se identificar.
O esquema funcionava assim (segundo as investigações):
- Empresários pagavam "consultorias" com valores absurdos
- O dinheiro circulava por contas fantasmas
- Decisões judiciais "pipocavam" de forma suspeitamente favorável
Não era um sistema sofisticado — e talvez essa fosse a jogada. "Às vezes o óbvio passa despercebido", comentou um delegado envolvido no caso.
O preço do crime
A cela parece ter cobrado seu preço. Relatos de quem visitou o lobista descrevem um homem irreconhecível: olheiras profundas, roupas que ficaram largas demais, e um tremor nas mãos que não existia antes. "Parece ter envelhecido 20 anos em meses", disse uma fonte.
Especialistas em saúde prisional alertam: casos assim não são raros. O estresse da detenção, somado à queda abrupta de status, pode "devorar" até os mais resistentes. "É como se o corpo refletisse o peso da consciência", filosofa uma psicóloga do sistema carcerário.
Enquanto isso, o processo segue — lento como de costume. Outros envolvidos, incluindo magistrados, estão na mira das investigações. O caso promete abalar as estruturas do Judiciário mato-grossense nos próximos meses.
Uma lição dura, mas necessária: no jogo do poder, quando a casa cai, cai de vez. E as consequências, às vezes, vão muito além das penas previstas em lei.