
Três meses se passaram desde que as máquinas chegaram e as paredes começaram a vir abaixo na Favela do Moinho, no coração de São Paulo. O que era pra ser uma solução virou um problema que teima em não se resolver — metade das famílias ainda não conseguiu voltar pra casa.
"A gente vira refém da própria cidade", desabafa Maria, 58 anos, enquanto mostra a papelada que carrega numa sacola plástica. São documentos, protocolos e promessas não cumpridas. Como ela, outros 200 moradores seguem nesse limbo entre albergues e a saudade do lugar que, por mais precário que fosse, era seu.
O que deu errado?
O plano parecia simples no papel: desocupar temporariamente, reformar e realocar todos. Na prática? Virou um quebra-cabeça com peças faltando:
- Famílias divididas em até três endereços diferentes
- Promessas de auxílio que "emperraram na burocracia"
- Obras que avançam a passos de tartaruga
Enquanto isso, o cenário no local é digno de filme pós-apocalíptico: pilhas de entulho onde antes havia casas, o cheiro de mofo disputando espaço com o de esperança minguante.
O outro lado da moeda
A Prefeitura garante que "os trâmites seguem conforme o planejado". Só que pra quem tá vivendo na pele, esse "planejado" tem gosto de piada sem graça. "Cadê as 600 unidades prometidas?", questiona João, líder comunitário, mostrando o cronograma original já manchado de café e descrença.
Psicólogos que acompanham as famílias alertam: o estresse prolongado tá deixando marcas. Crianças com pesadelos, idosos perdendo a noção do tempo... E o pior? Ninguém sabe dizer quando — ou se — isso vai ter fim.
Enquanto a cidade segue seu ritmo alucinante lá fora, dentro desse vácuo administrativo o tempo parece ter parado. Resta saber quantos "três meses" ainda virão pela frente até que a última família possa, enfim, chamar algum lugar de lar novamente.