
Parece que a poeira dos acontecimentos de 8 de janeiro ainda não assentou de vez. E agora, um novo projeto de lei, disfarçado de bandeira branca, ameaça revirar toda a ferida outra vez. A tal da "pacificação" – palavra bonita, não é? – pode, na prática, servir como um salvo-conduto para quem tentou rasgar a Constituição.
O cerne da questão é simples, mas espinhoso: como reconciliar um país profundamente dividido sem simplesmente varrer a sujeira para debaixo do tapete? A proposta, que ganha corpo no Congresso, basicamente quer anistiar uma galera que invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes. Em troca de quê? De uma suposta paz que, cá entre nós, cheira mais a capitulação.
O Jogo de Cena por Trás da Reconciliação
Não se engane. Por trás desse discurso bonito de "virar a página", existe um cálculo político tão claro quanto água. Alguns setores do Centrão, aliados de ocasião do governo Lula, estão pressionando por essa anistia. O motivo? Eles precisam dos votos da bancada bolsonarista para tocar a pauta econômica. É puro toma-lá-dá-cá, um jogo de interesses onde os princípios da Justiça ficam em segundo plano.
O governo, por sua vez, se vê num beco sem saída. Se barrar a proposta, arranja uma briga feia com o Congresso e emperra sua governabilidade. Se aceitar, mancha sua imagem perante a base e passa a mensagem de que crimes graves contra a democracia saem barato. Uma escolha entre o ruim e o péssimo.
Os Riscos de Perdoar e Esquecer
- Impunidade: Mandar a mensagem de que ataques às instituições não terão consequências sérias é um convite para que se repitam. É um perigo enorme.
- Fratura na Base: Setores importantes do PT e partidos aliados já veem a proposta com maus olhos. Isso pode rachar a coalizão governista.
- Desgaste Internacional: O mundo está de olho. Perdoar golpistas pode macular a imagem do Brasil como uma democracia sólida.
E tem mais. O Supremo Tribunal Federal (STF) não vai engolir essa quieto. Ministros como Alexandre de Moraes já deixaram claro que anistia para crimes dessa magnitude é um absurdo jurídico. Uma briga entre os Poderes é o último que este país precisa agora.
No fim das contas, a tal pacificação, da forma como está sendo proposta, parece menos sobre curar as feridas da nação e mais sobre conveniência política imediata. É um remédio amargo que pode intoxicar ainda mais o paciente, em vez de curá-lo. A pergunta que fica é: até que ponto estamos dispostos a negociar os alicerces da nossa democracia?