O cenário político brasileiro vive um daqueles momentos que ficam marcados na história — e não necessariamente pelos melhores motivos. De norte a sul do país, uma cena se repete com frequência quase cômica: políticos de diversos matizes conservadores fazendo fila para conseguir um único tipo de validação. Não é o apoio dos eleitores, não é o aval dos partidos, mas sim a benção de Jair Bolsonaro.
Parece piada, mas é a pura realidade. Figuras que outrora se posicionavam como independentes ou até críticas ao ex-presidente agora parecem participar de uma espécie de ritual político onde o endosso bolsonarista vale mais que qualquer programa de governo.
O Novo Capital Político
O que estamos testemunhando é uma mudança radical no que se considera "capital político" no Brasil. Antes, a experiência, as alianças partidárias e até a trajetória pública contavam pontos. Hoje? Hoje o que vale é estar nas graças do chamado "mito".
E não me venham dizer que é surpresa — depois de tudo que aconteceu nos últimos anos, desde os protestos pró e anti-governo até aquela eleição que dividiu o país ao meio, era previsível que algo assim aconteceria. Mas a intensidade? Essa sim assusta.
Os Suplicantes do Poder
Imaginem a cena: políticos experientes, alguns com décadas de carreira, praticamente se ajoelhando — figuradamente, claro — para receber uma palavra de apoio de quem, até pouco tempo atrás, era visto como um outsider radical. A ironia é tão densa que dava para cortar com faca.
E o pior? Muitos desses mesmos políticos criticavam publicamente os métodos e declarações de Bolsonaro quando ele estava no poder. Agora, mudaram completamente de discurso. Conveniente, não?
O Preço da Benção
Resta a pergunta que não quer calar: o que exatamente esses políticos esperam ganhar com esse endosso? Será que o eleitorado bolsonarista é tão influenciável assim? Ou será que estamos subestimando o poder de uma máquina de comunicação que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana?
O fato é que o apoio de Bolsonaro se tornou uma moeda de troca valiosa — talvez a mais valiosa do momento no espectro conservador. E como toda moeda rara, seu valor é inflado pela escassez e pela demanda.
Um Jogo Perigoso
O que me preocupa — e deveria preocupar a todos — é que essa corrida pela benção bolsonarista pode estar colocando em segundo plano debates importantes para o país. Em vez de discutir propostas, planos de governo ou visões de futuro, o foco se torna uma competição por quem consegue o melhor lugar na foto ao lado do ex-presidente.
É política como espetáculo, e não como serviço público. E no final das contas, quem paga o preço desse espetáculo somos todos nós, cidadãos comuns que esperamos que nossos representantes façam mais do que posar para selfies.
O Brasil merece melhor. Muito melhor.
