
Eis que a bomba caiu na sexta-feira, sem muito alarde mas com um impacto considerável: a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) simplesmente suspendeu todo o cronograma para terceirizar a gestão das UPAs de Natal. Sim, você leu direito - aquele processo que estava rolando, com edital e tudo mais, foi para o espaço.
Não foi algo gradual, não. Foi um corte limpo. A portaria número 2.447, assinada pelo secretário Petrônio Spinelli, revogou a portaria anterior que havia estabelecido todo o calendário do processo. Sumiu. Como se nunca tivesse existido.
O que me deixa pensando é: o que será que aconteceu nos bastidores? Porque uma decisão dessa magnitude não surge do nada. Alguém deve ter apertado o botão de emergência, ou será que descobriram alguma falha catastrófica no projeto?
O silêncio que fala mais alto
O mais curioso - e até preocupante - é que a Sesap não se manifestou sobre os motivos dessa reviravolta. Nada de comunicado oficial, nenhuma explicação detalhada. Apenas a portaria publicada no Diário Oficial do Estado, seca e direta, como quem não quer conversa.
Isso me cheira a uma daquelas situações em que alguém percebeu, de repente, que estava prestes a cometer uma baita gafe. Ou então pressão política entrou em cena - porque vamos combinar, terceirização de saúde pública sempre foi um campo minado.
As UPAs e a população
Para quem não vive em Natal, talvez não perceba a importância disso. As quatro UPAs da cidade - Zona Norte, Zona Sul, Pajuçara e Cidade Nova - são literalmente a linha de frente do atendimento de urgência para milhares de pessoas.
Imagina só se a gestão dessas unidades fosse parar nas mãos de empresas privadas? Será que o atendimento melhoraria ou pioraria? Os custos seriam menores ou maiores? Perguntas que, pelo visto, vão ficar sem resposta por enquanto.
O que me preocupa é o vazio que fica. Cancelaram o processo, mas e agora? Vão manter a gestão pública como está? Vão repensar o modelo? Ou vão deixar a poeira baixar e tentar de novo mais tarde?
O timing perfeito (ou imperfeito)
Não dá para ignorar o momento político. Estamos em 2025, ano que antecede eleições municipais. Será que alguém calculou o risco eleitoral de avançar com uma terceirização dessas? Porque convenhamos - não é exatamente uma medida popular.
Às vezes me pergunto se essas decisões são técnicas ou políticas. Ou uma mistura perigosa das duas coisas. O fato é que, pelo menos por enquanto, as UPAs continuam sob gestão direta do Estado.
Resta saber por quanto tempo. Porque na saúde pública, como na vida, nada é permanente. Amanhã pode chegar outra portaria, outro secretário, outra ideia.
Enquanto isso, a população continua dependendo dessas unidades. Esperando atendimento, cuidado, solução. E os profissionais de saúde? Esses sim, os heróis anônimos dessa história, seguem trabalhando independentemente de quem está no comando.
No fim das contas, o que importa mesmo é que o serviço funcione. Se é público, privado ou misto - isso é detalhe. O importante é que quando alguém precisar de ajuda, a porta esteja aberta e o atendimento seja humano e eficiente.
Tomara que essa suspensão seja para repensar, melhorar, e não apenas para adiar o inevitável. Porque saúde pública merece mais do que jogos políticos - merece seriedade e compromisso.