Em uma decisão histórica que promete gerar intensos debates no cenário da saúde pública brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou, por 10 votos a 1, a autorização concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso que permitia a enfermeiros e obstetrizes realizarem procedimentos de aborto legal.
Votação esmagadora reverte entendimento anterior
A ampla maioria dos ministros seguiu o voto do relator, ministro Kassio Nunes Marques, que considerou que a prática do aborto nos casos já permitidos por lei - como risco de vida para a gestante, estupro ou anencefalia fetal - deve ser realizada exclusivamente por médicos.
O único voto contrário foi do próprio ministro Barroso, que havia concedido a autorização liminarmente. A decisão do colegiado do STF ocorreu no julgamento de um recurso da Associação Nacional de Defensores Públicos (Anadep).
Impacto direto na saúde pública
Esta decisão do Supremo tem implicações profundas para o acesso ao aborto legal em todo o território nacional, especialmente em regiões mais remotas onde a presença de médicos é escassa.
Especialistas em saúde pública alertam que a restrição pode:
- Dificultar o acesso ao procedimento em cidades do interior
- Aumentar os riscos para mulheres em situações de vulnerabilidade
- Sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde
Argumentos dos ministros
Os ministros que votaram pela derrubada da autorização argumentaram que a legislação atual já estabelece claramente que o procedimento deve ser realizado por médicos, não cabendo ao Judiciário modificar essa determinação.
O entendimento majoritário foi de que eventuais mudanças nesse sentido deveriam vir do Congresso Nacional, através de alteração legislativa, e não do Poder Judiciário.
Repercussão imediata
A decisão já começa a gerar reações em diversos setores da sociedade. Entidades médicas comemoraram o resultado, enquanto organizações de direitos das mulheres manifestaram preocupação com o retrocesso no acesso aos serviços de saúde reprodutiva.
O debate sobre quem pode realizar o aborto legal no Brasil permanece acalorado, com esta decisão do STF representando um capítulo significativo nesta discussão que envolve saúde pública, legislação e direitos reprodutivos.