O leito oceânico esconde um tesouro mineral vital para a economia do futuro. Elementos como cobre, ferro e zinco, encontrados a cerca de 5 quilômetros de profundidade, são componentes essenciais para a fabricação de chips, baterias de veículos elétricos e painéis solares. A busca por esses recursos está desencadeando uma corrida internacional, repleta de potencial econômico e riscos ambientais significativos.
Os desafios da exploração nas profundezas
O ambiente onde esses minerais estão localizados é um dos mais hostis do planeta. A pressão esmagadora da água e as temperaturas extremamente baixas exigem tecnologia de ponta, com máquinas especializadas sendo as únicas capazes de operar nessas condições. O potencial econômico dessas áreas, especialmente em águas internacionais que cobrem 66% dos oceanos, atraiu a atenção de nações e empresas.
Nesse cenário, os Estados Unidos, sob a administração do presidente Donald Trump, manifestaram interesse em impulsionar a atividade minerária mesmo em águas internacionais, desafiando as estruturas de governança global. Essa posição acendeu um alerta entre ambientalistas e especialistas, que temem uma exploração desregulada.
A busca por um marco legal global
À frente das discussões para estabelecer regras está a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), órgão da ONU. Recentemente, a oceanógrafa brasileira Letícia Carvalho foi eleita secretária-geral da instituição. Em entrevista ao podcast O Assunto, apresentado por Victor Boyadjian, Carvalho destacou a urgente necessidade de um marco legal para a exploração em águas profundas.
Ela explicou quais instrumentos internacionais são necessários para garantir o cumprimento de regras comerciais e ambientais, um tema que ainda está em discussão. O objetivo é evitar que os oceanos se transformem em uma espécie de "faroeste" da exploração, como já alertou a própria ONU.
Riscos ambientais e a visão da ciência
Antes da conversa com Letícia Carvalho, o podcast ouviu o geofísico Luigi Jovane, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Jovane detalhou a importância dos minerais do fundo do mar para a economia mundial e as complexas tecnologias envolvidas em sua extração.
O professor também alertou para os sérios riscos ambientais associados a essa atividade. Estudos indicam que a mineração em alto-mar pode colapsar a cadeia alimentar dos oceanos, causando danos irreparáveis a ecossistemas ainda pouco conhecidos. A sedimentação gerada pela exploração pode sufocar formas de vida marinha e liberar toxinas, com impactos de longo alcance.
O episódio do podcast O Assunto, que soma mais de 168 milhões de downloads desde sua estreia em agosto de 2019, foi produzido por Mônica Mariotti, Amanda Polato, Sarah Resende, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski e Carlos Catelan. A discussão coloca em pauta o delicado equilíbrio entre o avanço tecnológico, a demanda por recursos e a preservação do maior bioma da Terra.