A eleição de José Antonio Kast como novo presidente do Chile, no dia 14 de dezembro de 2025, representa mais do que uma mudança interna. O evento redesenha o equilíbrio de forças na América do Sul e coloca o Brasil em uma posição de crescente isolamento no tabuleiro político regional.
Um novo eixo regional se consolida
A vitória da direita em um país estratégico, membro da OCDE e profundamente integrado às cadeias globais, consolida um eixo regional cada vez mais alinhado aos Estados Unidos. O Brasil, atualmente, não faz parte deste bloco. O resultado chileno se soma às orientações políticas de Argentina, Paraguai, Peru e Equador, formando um novo mapa de influências no continente.
Para Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e Economia do Ibmec/SP, a eleição de Kast intensifica uma tendência. "O Chile sempre manteve alinhamento institucional com o Ocidente. Com Kast, isso se intensifica e reforça a estratégia americana de cercar a Venezuela por vias diplomáticas, econômicas e, eventualmente, militares", analisa o especialista.
A posição desconfortável do Brasil
Nesse contexto renovado, o Brasil passa a ocupar uma posição estratégica delicada. O país não lidera o bloco pró-Estados Unidos e também não atua como um mediador efetivo em conflitos regionais. Esta ineficiência é agravada pela relação ambígua do governo brasileiro com o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, um ponto de discórdia com os novos aliados de Washington no subcontinente.
O isolamento diplomático tende a ter um efeito prático: a redução da influência brasileira em negociações e fóruns regionais. Enquanto isso, nações vizinhas ganham protagonismo e acesso direto aos centros de decisão em Washington.
Impactos para o mercado e os investidores
Para o mercado financeiro, o efeito é indireto, porém relevante. Em um ambiente de maior tensão geopolítica, o capital estrangeiro tende a privilegiar economias percebidas como mais previsíveis e estáveis do ponto de vista institucional. O Chile, com seu novo governo, se encaixa neste perfil, assim como outros países do eixo realinhado.
O recado para o Brasil é claro, segundo analistas: sem um ajuste fino e estratégico em sua política externa, o risco político regional pode voltar com força ao radar dos investidores internacionais. A motivação, neste caso, não seria ideológica, mas puramente pragmática, baseada na avaliação de riscos e na busca por ambientes mais seguros para os investimentos.
A vitória de Kast, portanto, vai além das fronteiras chilenas. Ela é um catalisador que acelera uma reconfiguração geopolítica, pressionando o Brasil a redefinir seu papel em uma América do Sul que parece estar se movendo em uma direção diferente da sua.