
Eis que a política urbana paulistana decide entrar em um terreno pantanoso — e olha que não é metáfora. Nesta quarta-feira (3), a Câmara Municipal aprovou em segundo turno um projeto, digamos, peculiar da prefeitura. A ideia? Repassar uma viela — sim, uma via pública — para um condomínio residencial de alto padrão nos Jardins.
Parece piada de mau gosto, mas não é. A votação foi apertada: 31 votos a favor, 17 contra. Sabe quando você vê algo e pensa 'isso não vai passar'? Pois é, passou.
O que está em jogo, afinal?
A tal viela, localizada entre a Rua Bela Cintra e a Alameda Santos, seria integrada ao condomínio Lux Jardins. A prefeitura argumenta que a via é subutilizada e que a transferência traria benefícios — como segurança e manutenção — que o poder público, francamente, não consegue fornecer.
Mas é claro que a coisa não é tão simples. O projeto prevê que o condomínio assuma a responsabilidade pela área, incluindo iluminação, limpeza e vigilância. Em troca, os moradores — e só eles — teriam acesso exclusivo ao espaço.
O debate que divide (e como)
Do lado do governo municipal, a narrativa é de modernização e eficiência. "É uma parceria público-privada que beneficia todos", defendem. Mas os críticos veem a coisa com outros olhos — bem mais céticos.
Para a oposição, isso cheira a privatização de espaço público. E pior: privilegiando quem já tem privilégios. "É um precedente perigoso", alertam. Imagina se every rich neighborhood decide fazer o mesmo? O que sobra de cidade pública para o resto de nós?
E agora, o que esperar?
O projeto segue para sanção do prefeito Ricardo Nunes. Se aprovado — e tudo indica que será —, a prefeitura terá que celebrar um convênio com o condomínio. Detalhe: a via não será vendida, mas cedida para uso.
O tema é espinhoso e reacende discussões antigas. Até que ponto a gestão pública pode — ou deve — transferir responsabilidades para o setor privado? E qual o limite entre conveniência e elitização do espaço urbano?
Enquanto isso, nos Jardins, a discussão esquenta. E não é só pelo tempo seco.