
Numa jogada que pegou muita gente de surpresa — e deixou não poucos de sobrolho franzido —, Nicolás Maduro, o presidente venezuelano, resolveu botar os militares literalmente na rua. Mas não é manobra, não. A ordem, dada durante uma transmissão oficial, é de que as Forças Armadas comecem a treinar a população. Sim, você leu certo.
Numa dessas falas que parecem saídas de um roteiro de filme, Maduro justificou a medida como uma forma de "fortalecer a união cívico-militar". Ele acredita, ou pelo menos diz acreditar, que preparar os civis é crucial para a "defesa da pátria". Soa grandioso, né? Mas é exatamente assim que foi colocado.
O que significa, na prática?
Militares vão deslocar-se para bairros, vilas, comunidades. Vão ensinar noções básicas — desde primeiros socorros até como agir em situações de emergência. Pelo menos é o discurso oficial. Mas é inevitável não lembrar de outros regimes, de outros tempos, em que a militarização do quotidiano não acabou bem.
Não é de hoje que Maduro aposta numa narrativa de cerco, de ameaça externa. E, convenhamos, isso ajuda a manter um certo clima de tensão permanente — útil, quem sabe, para desviar o foco de problemas internos. A economia vai mal, a inflação é das mais altas do mundo, e aí… surge um projeto destes.
E a população, como fica?
Uns veem com bons olhos. Afinal, quem não quer sentir-se mais seguro? Saber como agir numa crise? Mas há quem suspire fundo e pergunte: não será mais um passo para normalizar a presença militar no dia a dia? Uma militarização disfarçada de curso de verão?
O governo garante que não. Diz que é educativo, preventivo, patriótico. Mas o diabo, como se sabe, mora nos detalhes. E na Venezuela, detalhes nunca faltam.
Enquanto isso, nas redes sociais, a polarização mostra a sua cara. De um lado, os apoiantes do regime, entusiasmados com a ideia. Do outro, os opositores, que veem mais uma manobra de controle. O certo é que os quartéis vão sair à rua. E isso, queira-se ou não, vai mudar a paisagem — e talvez mais do que isso.