
Não foi apenas mais um desfile militar comum. Longe disso. O que a China apresentou nesta quarta-feira (3) foi algo entre um espetáculo coreografado e uma declaração geopolítica das pesadas – uma daquelas que fazem as chancelarias ocidentais ficarem de sobreaviso.
Imagine só: tanques desfilando sob um céu cinzento, tropas marchando com precisão quase robótica, e no meio disso tudo, equipamentos militares que parecem saídos de um filme de ficção científica. Mas isso era bem real.
Novos Brinquedos no Playground Geopolítico
O que realmente chamou atenção – e muito – foram os novos sistemas de mísseis revelados. A China mostrou publicamente pela primeira vez seus mísseis hipersônicos DF-27, aqueles que viajam tão rápido que tornam praticamente inúteis os sistemas de defesa atuais. Um game changer, como diriam os estrategistas.
Não contente em exibir apenas um novo brinquedo, Pequim também apresentou o DF-17, outro míssil hipersônico, e o DF-100, um cruzador supersônico de longo alcance. A mensagem? Bem, não era exatamente sutil.
Os Companheiros de Arquibancada
Aqui é que a coisa fica ainda mais interessante – e preocupante para Washington. Quem estava lá validando toda essa demonstração de força? Ninguém menos que os ministros da Defesa da Rússia, Andrei Belousov, e da Coreia do Norte, Kang Sun Nam.
Dois parceiros que andam meio… digamos… desalinhados com os interesses norte-americanos. Coincidência? Duvido muito.
O desfile marcava os 100 anos de uma instituição militar chinesa, mas parecia muito mais um recado cuidadosamente orquestrado para o mundo – especialmente para os EUA e seus aliados na região Ásia-Pacífico.
O Teatro das Alianças
Enquanto as tropas desfilavam, os representantes russo e norte-coreano assistiam tudo de camarote – literalmente. Belousov, recém-empossado no cargo, e Kang, representante de um regime que vive em tensão constante com o Ocidente.
Xi Jinping, é claro, presidiu a cerimônia com aquela seriedade característica. Nada de sorrisos ou gestos expansivos. Apenas a postura firme de quem sabe estar enviando uma mensagem que seria decodificada em todas as capitais mundiais.
Os três países vêm realizando exercícios militares conjuntos recentemente, algo que não exatamente acalma os ânimos na região. É como se estivessem dizendo: «olhem, estamos coordenados, estamos alinhados».
O Timing Geopolítico
Não dá pra ignorar o momento escolhido para essa exibição. Com tensões crescendo no Estreito de Taiwan e disputas marítimas se intensificando no Mar do Sul da China, a demonstração de força parece mais um aviso do que uma celebração.
Os sistemas de mísseis exibidos são precisamente o tipo de tecnologia que poderia ser usada em um cenário de conflito regional. E ter o aval público de Moscou e Pyongyang? Isso adiciona camadas extras de complexidade a uma situação já delicada.
Parece que a China não está apenas mostrando suas novas capacidades militares – está mostrando que tem amigos que também não são muito fãs da hegemonia ocidental. E isso, meus caros, é que é particularmente significativo.
O desfile militar chinês sempre foi mais do que apenas soldados marchando. É teatro geopolítico, é comunicação estratégica, é demonstração de poder. E desta vez, com convidados especiais e novos equipamentos, a mensagem foi mais clara do que nunca: o mundo multipolar não é mais uma teoria – é uma realidade em construção.