
Num tom que misturava ironia fina e firmeza, o presidente Lula soltou uma frase que ecoou como um tiro de canhão em campo aberto: "Aqui a gente planta comida, não ódio". O recado, dado durante um evento sobre desenvolvimento agrícola em Brasília, tinha endereço certo: Donald Trump, o ex-presidente americano que voltou a fazer barulho na corrida eleitoral dos EUA.
Não foi um ataque direto — Lula é mestre nesse jogo de xadrez retórico. Mas quem acompanha política internacional entendeu na hora o subtexto. Enquanto Trump semeia polarização, o Brasil (segundo Lula) cultiva soluções. E que solução mais básica que colocar comida no prato?
O contexto que muitos perderam
O discurso aconteceu num armazém reformado da Conab, cheirando a café fresco e projetos. Lula, de mangas arregaçadas, parecia mais um técnico agrícola que chefe de Estado. Detalhe que a imprensa internacional ignorou: ele falava para pequenos produtores, não para diplomatas.
Três pontos cruciais que merecem destaque:
- A defesa intransigente da reforma agrária — assunto que faz tremer o agronegócio tradicional
- O tom despretensioso ao criticar "certos líderes estrangeiros" sem citar nomes
- A habilidade de transformar um evento técnico em palanque geopolítico
Numa passagem reveladora, Lula soltou: "Tem gente que acha que liderança é gritar mais alto. Nós mostramos que é colher mais farinha". Quase dá pra ouvir os assessores de Trump mastigando a indireta.
Por que isso importa agora?
O timing não foi acidental. Na mesma semana em que Trump fazia campanha no Midwest americano — região agrícola por excelência —, Lula escolheu falar de segurança alimentar. Dois modelos em choque:
- O protecionismo agressivo do republicano
- A visão cooperativista do brasileiro
Um analista que preferiu não se identificar resumiu: "É a Doutrina Lula em ação — transformar espiga de milho em argumento político". E funciona. Enquanto isso, nas redes sociais, a hashtag #PlantandoComida viralizou entre jovens agricultores.
O recado tá dado. Resta saber se do outro lado do Equador alguém vai entender a metáfora.