
Eis que surge mais um capítulo daqueles que fazem a política brasileira parecer um jogo de xadrez onde as peças se movem sozinhas — e contra seus próprios jogadores. Na terça-feira, o placar eletrônico da Câmara dos Deputados registrou algo que, para muitos, não passava de mais uma votação rotineira. Mas ah, como as aparências enganam.
O que se viu foi uma manobra orquestrada com precisão cirúrgica. O PP, partido que integra a base aliada do governo Lula, havia determinado que seus parlamentares votassem contra um projeto de autoria do Executivo. A orientação partidária era clara. Só que, quando os números apareceram, a realidade contava outra história: 34 votos a favor do governo, apenas 5 contra.
Como isso foi possível? A resposta tem nome e sobrenome: Arthur Lira. O presidente da Câmara, aliado de longa data do PP, simplesmente ignorou a decisão do partido e articulou nos bastidores para garantir os votos necessários. Um drible na própria base. Um passe de magia política.
O jogo duplo que ninguém viu chegar
E não foi por falta de aviso. O líder do PP na Câmara, André Fufuca, enviou uma mensagem oficial a todos os deputados do bloco, deixando claro: a bancada deveria rejeitar o projeto. Mas eis que a máquina de articulação de Lira entrou em ação. Telefonemas, conversas de corredor, aquele jeitinho característico de quem conhece o jogo melhor do que ninguém.
O resultado? A maioria esmagadora do PP votou com o governo. E olha que coisa: o próprio Fufuca, que deveria garantir o cumprimento da orientação, estava ausente durante a votação. Coincidência? Difícil acreditar.
Os deputados que seguiram a orientação original ficaram, claro, perplexos. Um deles chegou a comentar, sob condição de anonimato: "É como se estivéssemos em um time onde o técnico joga contra a gente".
As entrelinhas de um poder que não se discute
O que essa pequena grande reviravolta nos diz? Primeiro, que a lealdade partidária muitas vezes perde para os acordos de cúpula. Segundo — e talvez mais importante — que Arthur Lira mantém um controle sobre a Câmara que vai muito além das aparências.
Lira não apenas garantiu a vitória do governo em uma votação que parecia perdida, mas também mandou um recado claro: quando ele decide articular, as orientações partidárias viram meras sugestões. É a velha política mostrando suas garras, com direito a tudo que temos direito — incluindo aquela pitada de cinismo que já virou lugar-comum.
Resta saber como o PP vai lidar com essa afronta interna. Será que vão aceitar quietos? Ou será que essa jogada vai custar mais do que Lira imagina? No xadrez político, como na vida, cada movimento tem suas consequências.
Uma coisa é certa: enquanto isso, o plenário segue votando, os deputados seguem articulando, e o povo brasileiro segue assistindo. De camarote.