
Numa guinada que ecoa pelos corredores do poder, Eduardo Leite — sim, o governador do Rio Grande do Sul — soltou o verbo. E que verbo. Questionado sobre a possibilidade de anistiar figuras como Bolsonaro e a turma do 8 de janeiro, a resposta foi um corte limpo e seco: “Sou contra”. Ponto final? Quase.
Não foi um comentário de passagem, daqueles que se perdem no noticiário. Foi uma declaração de princípio, dada durante uma coletiva de imprensa em Porto Alegre, onde se discutia — ironicamente — reconstrução e reparação. O tema era a tragédia das enchentes, mas a pergunta jogou a política nacional no centro do ringue.
O Palco e a Plateia
O cenário não poderia ser mais simbólico. Enquanto o estado ainda levanta os escombros deixados pelas águas, Leite foi confrontado com a ideia de perdoar os que tentaram derrubar a ordem democrática do país. E aí, a resposta saiu quase como um reflexo, carregada de uma convicção que surpreendeu a muitos. Ele não apenas rejeitou a anistia, mas enfatizou que atos contra as instituições precisam ter consequências. “Não se trata de vingança”, ele teria dito, com a seriedade de quem entende o peso das palavras, “mas de justiça”.
E o que isso significa na prática? Basicamente, que o governador gaúcho — muitas vezes visto com cautela pela esquerda — colocou-se num terreno pantanoso. Ao defender a responsabilização, ele desafia uma narrativa que tenta suavizar os eventos daquele janeiro sombrio. Para Leite, anistia não é reconciliação; é impunidade disfarçada.
As Entrelinhas de uma Negativa
Mas vamos além das manchetes. O que motiva uma posição tão firme? Especula-se, claro. Alguns veem cálculo político, uma tentativa de se distanciar de um bolsonarismo em frangalhos. Outros enxergam um genuíno compromisso institucional — afinal, governadores sabem bem o que é ter sedes de poder invadidas e depredadas.
Ele mesmo lembrou, ainda que indiretamente, do cerco ao Palácio Piratini durante as manifestações de 2023. Uma experiência que, parece, deixou marcas. “Democracia se fortalece com respeito, não com esquecimento”, ecoou, numa frase que soa quase como um mantra para o momento atual.
E o recado, claro, não foi só para Brasília. Foi para o país inteiro. Num momento onde a polarização ainda esquenta os ânimos, figuras centras como Leite ganham um protagonismo perigoso. Agradará a uns, desagradará a outros. Mas uma coisa é certa: ele não escolheu o caminho silencioso.
E Agora, José?
O tema da anistia segue em aberto no Congresso, dividindo opiniões e criando rusgas até dentro de partidos. Com a declaração de Leite, ganha um opositor de peso. Alguém que, não custa lembrar, já foi cotado para cargos nacionais e mantém influência no centrão.
Resta saber se outros governadores seguirão o exemplo — ou se preferirão nadar na correnteza da neutralidade. Por enquanto, o homem do Sul deu sua cartada. E fez isso com a clareza de quem não teme o burburinho.
Como disse, sem rodeios: “Anistia para quem atacou o coração da nossa democracia? Não. Isso não é algo que se deva sequer colocar em pauta”. Palavras duras, num tempo de amnésias convenientes. Quem viver, verá.