
O plenário da Câmara dos Deputados viveu, nesta quarta-feira, um daqueles momentos que ficam para a história – e não é por um bom motivo. A decisão de arquivar o processo de cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) gerou ondas de choque que reverberaram por todos os cantos do Planalto.
E quem veio com o microfone quente foi ninguém menos que Guilherme Boulos (PSOL-SP). O colega de parlamento não mediu palavras – e porque haveria? – para classificar o ocorrido. “Uma vergonha para o Legislativo brasileiro”, disparou, com aquele misto de indignação e frustração que só quem esperava por justiça consegue entender.
O cerne da questão: o que levou a essa comoção?
O processo contra Eduardo Bolsonaro não surgiu do éter. Trata-se de uma resposta direta às declarações explosivas do parlamentar, que, não faz muito, insinuou a possibilidade de um novo AI-5 – aquele instrumento de exceção da ditadura militar – caso a esquerda “perturbasse” as instituições.
Não é pouca coisa. É daquelas falas que ecoam, que arrepiam, que lembram tempos sombrios. E, no entender de Boulos – e de muitos outros –, um deputado da República simplesmente não pode brincar com fogo assim. A responsabilidade é grande demais, o cargo é sério demais.
O pior, na visão dele, foi ver o sistema engolir a seco. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa deu parecer pela rejeição da denúncia. E o plenário, seguindo o ritmo, enterrou o caso. Fim de linha.
E o recado que fica?
Boulos vai além da crítica momentânea. Ele enxerga nessa arquivação um precedente perigoso, um sinal de que certos limites podem ser transpostos sem maiores consequências. “O que estamos dizendo para a sociedade? Que um parlamentar pode afrontar a democracia e sair ileso?”, questiona, sem esperar resposta.
É a velha política, o famoso “toma lá dá cá”, o jogo de interesses que sobrepõe a ética e o decoro. Uma demonstração clara de que, às vezes, a blindagem corporativa fala mais alto do que o dever com o país.
O clima, como era de se esperar, está pesado. De um lado, a frustração de quem acreditava que, finalmente, um ato claro seria tomado em defesa do Estado Democrático de Direito. Do outro, a comemoração discreta – ou nem tão discreta assim – da bancada governista, que viu mais uma pedra sair do sapato.
Resta saber qual será o próximo capítulo. Mas uma coisa é certa: a ferida aberta hoje vai sangrar por um bom tempo. E o discurso de Boulos é apenas o primeiro – e mais alto – grito de muitos que se sentem traídos por Brasília.