Mãe Brasileira Vive Drama na Ucrânia: 'Talvez Nunca Consiga Me Despedir do Meu Filho'
Mãe brasileira vive drama na guerra da Ucrânia

Ela segura o celular com as mãos trêmulas, como se aquela tela frágil pudesse de alguma forma conter toda a dor do mundo. Do outro lado da linha, a voz de Ângela Maria de Souza Soares, 53 anos, carrega um peso que nenhuma mãe deveria conhecer.

— Não sei… não faço ideia se vou poder me despedir direito do meu filho — diz ela, com aquela pausa que corta mais fundo que grito. O filho dela, o brasileiro Thiago Rossi, 39 anos, morreu em território ucraniano no último dia 2 de setembro. A guerra — essa coisa distante que a gente vê na TV — chegou na sala de estar dela, em Vila Velha.

Um Silêncio Que Dói

Thiago não era militar de carreira. Tinha um passado no Exército, sim, mas estava vivendo na Polônia — trabalhando, construindo uma vida. Até que resolveu se alistar como voluntário. Por quê? Ângela suspira fundo. — Ele sempre foi assim, o primeiro a ajudar, a se colocar na linha de frente. Mas ninguém imagina que… que a frente vai ficar tão perto.

A notícia veio de forma seca, burocrática. Um comunicado. Algo sobre "incidente em combate". Palavras vazias que não explicam como um homem cheio de vida vira estatística num conflito do outro lado do mundo.

O Labirinto Burocrático

E agora? Agora começa o calvário paralelo. O da papelada, dos e-mails não respondidos, dos telefonemas para embaixadas que nunca retornam. — A gente fica completamente perdido. Não sabe pra quem correr, quem pode de fato ajudar — desabafa Ângela, com a frustração escorrendo por cada palavra.

O Itamaraty confirmou… sim, está ciente. Está prestando "assistência". Mas o que isso significa na prática? Quando o corpo do Thiago vai voltar? Se vai voltar? São perguntas que ecoam na casa vazia dela, sem resposta.

O Adeus Que Pode Não Vir

— Meu maior medo é não ter a chance de olhar pra ele uma última vez — confessa, a voz se partindo. — De não poder fazer um funeral digno, chorar junto da família… essas coisas que a gente acha que são direito, até a guerra dizer que não são.

Enquanto isso, a vida segue aqui no Espírito Santo. O sol nasce, o mar bate na praia de Itaparica. Mas dentro da casa de Ângela, o tempo parou. Parou no momento em que a guerra, que parecia tão distante, decidiu bater na sua porta e levar embora o que ela tinha de mais precioso.

E assim ficamos nós, olhando para o mapa-múndi, tentando entender como um pedaço do Brasil se perdeu nos campos gelados da Ucrânia — e esperando, com o coração nas mãos, que uma mãe finalmente consiga fazer aquilo que toda mãe merece: dizer adeus.