Paraibana Conquista Direito à Própria Identidade: 'Só Queria Ser Quem Sempre Fui'
Mulher trans da PB comemora retificação de nome: «Alívio»

Ela esperou tanto por aquele momento que, quando finalmente chegou, pareceu até um daqueles sonhos que a gente tem mas não acredita que vai realizar. Aline (nome fictício para preservar a identidade), uma mulher trans da Paraíba, segurava nas mãos — um pouco trêmulas, diga-se — o documento que finalmente refletia quem ela sempre foi por dentro.

«Não é exagero dizer que saí do cartório flutuando», confessa, com uma voz que mistura emoção e alívio. «A única coisa que eu desejava como mulher trans era ser retificada. Era isso. Parece simples, mas para nós é tudo.»

Mais que papel: o peso de um nome

Quem nunca teve que explicar por que o documento não «bate» com a aparência talvez não entenda o peso que um simples pedaço de papel pode carregar. Cada vez que precisava apresentar a carteira de identidade, Aline se preparava psicologicamente para o constrangimento — aquele olhar de estranheza, a pergunta indiscreta, a sensação de não se encaixar no próprio nome.

«É uma violência silenciosa que a gente vive todos os dias», desabafa. «Você se olha no espelho, se reconhece, mas o Estado insiste em te chamar por um nome que nunca foi seu.»

O caminho até a certidão

O processo de retificação no Brasil — graças a uma decisão do STF que dispensa a necessidade de cirurgia ou decisão judicial — tornou-se mais acessível. Mesmo assim, não é tão simples quanto deveria. Envolve papelada, taxas, e principalmente, coragem.

«Muita gente ainda desiste no meio do caminho por medo ou por falta de informação», comenta Aline. «Mas eu estava determinada. Cheguei no cartório com todos os documentos, expliquei minha situação, e fui tratada com respeito — o que, infelizmente, ainda é uma exceção.»

E agora, o que muda?

Tudo. E ao mesmo tempo, nada.

Por fora, a vida segue: mesmo trabalho, mesma casa, mesma rotina. Por dentro, porém, a sensação é de libertação. «Finalmente posso fazer uma matrícula na academia, apresentar meu documento no médico, viajar de avião sem ter que carregar junto a ansiedade de ser questionada», enumera.

Ela ri ao lembrar de uma situação recente: «Até para retirar um pacote nos Correios foi diferente. A atendente me chamou pelo meu nome — meu nome de verdade — e eu quase não acreditei. Coisa pequena? Para mim, foi gigante.»

Um recado para quem ainda espera

«Não desistam», é o que ela diz para outras pessoas trans que ainda estão no processo ou pensando em começar. «É seu direito. Pode parecer assustador — e é —, mas a sensação no final é indescritível. Você está apenas tornando oficial o que você já é.»

E finaliza, com a sabedoria de quem conquistou não apenas um documento, mas o próprio lugar no mundo: «Agora, quando alguém me pergunta 'quem você é', eu simplesmente mostro minha identidade. Está tudo ali. Finalmente.»