
Era pra ser uma terça-feira qualquer. Dessas que se repetem sem graça no calendário. Mas o que começou como mais um dia trivial na Zona Leste de São Paulo rapidamente se transformou num pesadelo de verdade — do tipo que não sai da memória nunca mais.
A cena toda foi capturada não por uma câmera de segurança, não por um repórter, mas por uma adolescente. A mão tremendo, a voz entrecortada pelo medo. Ela filmava pela janela quando os primeiros estampidos ecoaram pela Rua Ruy Ferraz.
Não eram fogos de artifício. Quem mora em periferia sabe diferenciar na hora — tem um estalo seco, metálico, que corta o ar de um jeito diferente. Eram tiros de fuzil, e muitos.
"Mataram o Cara!"
A voz dela sobe de tom, aguda, quase estridente. "Mataram o cara! Mataram o cara!", repete, como se não conseguisse acreditar no que os próprios olhos viam. A câmera balança, desorientada, tentando capturar o caos que se instalou do lado de fora.
Num momento de lucidez — ou talvez de puro instinto —, ela grita para alguém próximo: "Liga para tua mãe!". É esse detalhe que dói mais, sabe? Num momento de perigo real, a primeira reação é avisar a mãe. Como se o colo materno ainda pudesse proteger da violência que acontecia ali, a meros metros de distância.
O vídeo, que circulou nas redes sociais nesta segunda-feira (15), não mostra explicitamente o momento do disparo fatal. Mas a sequência de eventos — os tiros, os gritos, a confirmação posterior — deixa pouca margem para dúvidas.
O Aftermath do Caos
Segundo testemunhas que preferiram não se identificar (e quem pode julgá-las?), o homem foi atingido na cabeça. Não resistiu. Os paramédicos do SAMU chegaram a ser acionados, mas só puderam confirmar o óbito. Às vezes, a medicina não consegue fazer milagres — especialmente quando o estrago é tão grande.
A Polícia Militar apareceu no local, isolaram a área, fizeram aquela rotina conhecida de quem já viu cena de crime antes. Coletaram cápsulas de projéteis — e não eram de calibre pequeno, não. Era coisa pesada, do tipo que não deixa muita chance.
Até agora? Nada de informações sobre suspeitos. Nada de motivação. Só mais um caso na estatística violenta da capital paulista — mas com a rara (e macabra) sorte de ter sido documentado em primeira mão por quem viu tudo de perto.
O que fica é o desespero na voz dessa garota. O choque genuíno de quem presencia o impensável. E a pergunta que não quer calar: até quando cenas como essa vão ser rotina nas nossas cidades?