
Numa conversa franca que arrepiou até os mais durões, Fábio Assunção — aquele ator que a gente já viu fazer de tudo, desde galã até personagem perturbado — soltou o verbo sobre um assunto que costuma ficar engasgado na garganta: os anos de assédio que marcariam sua infância feito facão em tronco mole.
"Foi uma coisa que carreguei debaixo do braço como se fosse normal", confessou ele, com aquela voz rouca que a gente conhece das novelas. E não veio num tom dramalhão, não. Foi mais como quem conta que esqueceu o leite no fogo — só que o leite era a inocência dele.
O peso do silêncio
Pensa numa bomba-relógio: tique-taque de décadas sem falar no assunto. "Na época, achei que era culpa minha. Tinha vergonha de contar até pro travesseiro", desabafou o ator, enquanto o café esfriava na xícara. Coisa de quem engoliu sapo até ficar com a barriga cheia de segredo.
E não foi só um episódio isolado, não. Pelas entrelinhas do que ele contou, dá pra sacar que foram várias situações que iam desde "brincadeiras" esquisitas até situações que nenhuma criança deveria passar.
Quando a arte vira cura
Curioso (ou não) como esses fantasmas do passado acabaram virando combustível pra carreira. Quem acompanha o trabalho dele há anos já percebeu — tem uma intensidade nos personagens que vai além do script. "O palco virou meu psicólogo de plantão", brincou ele, com um sorriso que não chegava nos olhos.
- Anos 90: primeiros papéis enquanto lidava com os traumas
- Década de 2000: personagens cada vez mais complexos
- Atualmente: usa a fama pra falar sobre o assunto sem medo
E olha que ironia: justo quem vivia escondendo as cicatrizes acabou ganhando notoriedade por interpretar gente cheia de marcas. Vida imita arte ou arte imita vida? Difícil dizer.
O tabu que precisa virar papo
O mais revoltante nessa história toda? Assunção não é exceção — é regra disfarçada. Quantos outros não estão aí, engolindo sapo porque "homem não chora" ou porque "isso é coisa do passado"?
"Demorei pra perceber que culpa nunca foi minha", disse ele, com uma convicção que dava vontade de bater palma. E arrematou: "Hoje falo pra quebrar esse silêncio que só protege os errados". Tiro certo.
Enquanto isso, nas redes sociais, o assunto já tinha virado polêmica. De um lado, gente elogiando a coragem. De outro, os de sempre questionando "por que falar disso agora?". Como se trauma tivesse prazo de validade.
Uma coisa é certa: quando um artista do calibre dele resolve botar a boca no trombone, o assunto ganha um peso diferente. E talvez — só talvez — ajude outros a encontrarem suas próprias vozes.