Cruzes no chão, dor no coração: ato no Acre lembra vítimas de feminicídio com protesto emocionante
Acre: cruzes lembram vítimas de feminicídio em protesto

Não foi um protesto qualquer. Nem mais uma passeata esquecida no calendário de causas sociais. Na última sexta-feira, o Acre parou — ou pelo menos deveria ter parado — para enxergar o que muitos insistem em ignorar: o rastro de sangue deixado pela violência contra as mulheres.

Cruzes. Dezenas delas. Plantadas no chão como quem semeia dor e colhe indignação. Cada uma representando uma vida interrompida pela brutalidade do feminicídio. "Parem de nos matar", gritavam as vozes que ecoavam pelas ruas, num coro que misturava luto com revolta.

O peso do símbolo

Não eram apenas pedaços de madeira. Cada cruz carregava um nome, uma história, um sonho esfacelado. "Quando coloquei a cruz no chão, senti como se estivesse enterrando minha irmã de novo", confessou Maria*, 34 anos, com as mãos tremendo — de raiva ou de tristeza, nem ela sabia dizer.

O ato, organizado por coletivos feministas, aconteceu em frente ao Palácio Rio Branco. Estrategicamente. Afinal, quantos gritos são necessários para que os poderes públicos acordem? Pelas contas das organizadoras, o Acre registrou 15 feminicídios só este ano. Quinze cruzes. Quinze famílias destroçadas.

Os números que doem

  • 1 mulher assassinada a cada 6 horas no Brasil
  • 76% dos casos ocorrem dentro de casa
  • Em 80% das situações, o agressor era conhecido

"Isso aqui não é estatística, é genocídio", disparou uma das manifestantes, segurando um cartaz com a foto da filha — mais uma cruz na contagem macabra.

Enquanto isso, nas redes sociais, o protesto ganhava força. #AcreContraOFeminicídio viralizou, mas até quando? No meio da multidão, uma senhora de cabelos brancos segurava uma cruz sem nome. "É pra próxima vítima que ainda não sabemos quem é", explicou, num tom que cortava mais que grito.

O sol baixou, as cruzes ficaram. E a pergunta que ninguém responde: quantas serão necessárias para que a sociedade mude?

*Nome alterado para preservar a identidade da entrevistada