
Imagine um advogado que nunca dorme, não cobra horas extras e consegue analisar milhares de jurisprudências em segundos. Parece ficção científica? Pois essa realidade já bateu à porta dos escritórios de advocacia — e está causando tanto entusiasmo quanto arrepios na classe jurídica.
Marcos Wanderlei de Lima, um dos nomes mais respeitados quando o assunto é direito e tecnologia, soltou o verbo em um debate recente: "A IA veio para ficar, mas não pode virar uma muleta intelectual". A fala, que mistura cautela com otimismo, reflete o dilema atual da profissão.
O lado bom da revolução digital
Não é exagero dizer que a inteligência artificial está fazendo pelos advogados o que a calculadora fez pelos matemáticos:
- Automatização de tarefas repetitivas (como análise de contratos padrão)
- Pesquisa jurídica ultrarrápida em bancos de dados gigantescos
- Previsão mais precisa de resultados judiciais com base em dados históricos
Mas aqui está o pulo do gato — ou melhor, do código: quando usada com sabedoria, a IA pode libertar os profissionais para o que realmente importa. Estratégia, criatividade e o fator humano que nenhum algoritmo consegue replicar.
Os perigos escondidos nos bytes
Lima não poupou críticas aos colegas que estão usando essas ferramentas como atalho intelectual: "Já vi petições geradas por IA com citações de doutrinas que não existem — é um tiro no pé profissional". O problema? Muita gente acha que basta apertar um botão e sair um trabalho perfeito.
E os riscos vão além:
- Vazamento de dados sensíveis de clientes
- Decisões enviesadas por algoritmos mal calibrados
- Erosão da capacidade analítica dos profissionais
Pior: alguns escritórios já foram pegos usando IA para "inflar" horas de trabalho cobradas dos clientes. Uma prática que, além de antiética, pode virar um problema jurídico sério.
O caminho do meio tecnológico
Para Lima, a solução não é demonizar a tecnologia, mas domesticá-la. Ele sugere um checklist básico para quem quer navegar essas águas sem naufragar:
- Transparência total — Se usou IA, assuma (os clientes têm direito de saber)
- Revisão humana — Nenhum output de máquina deve ser usado sem análise crítica
- Educação contínua — Dominar as ferramentas, não ser dominado por elas
Curiosamente, o especialista aponta que os melhores resultados vêm de "duetos" entre humano e máquina — onde cada um faz o que sabe de melhor. O computador processa dados, o advogado processa nuances.
E você, leitor? Acha que as faculdades de direito deveriam incluir programação no currículo? A discussão está só começando...