
Eis que a vida imita o pior dos pesadelos. Rodrigo de Oliveira Tavares, 45 anos, não era mais delegado, mas o passado — aquele fantasma teimoso — parecia não ter plans de deixá-lo em paz. Semanas antes do desfecho trágico, ele soltou uma frase que hoje soa como um presságio macabro: "Moro sozinho no meio deles". Quem eram "eles"? A pergunta agora ecoa nas investigações.
Naquela terça-feira, 25 de junho, por volta das 22h, o silêncio da Rua Sergipe, no Bairro Guilhermina, Praia Grande (SP), foi quebrado por estampidos secos. Dois homens, encapuzados e — pasme — usando até mesmo capas de chuva, desceram de um carro prata e dispararam contra Rodrigo, que estava dentro do próprio veículo, um Hyundai HB20. Não foi um assalto. Foi uma execução. Limpa, rápida, profissional.
O Passado que Não Passa
Rodrigo tinha histórico. Ex-delegado da Polícia Civil, ele já havia passado pela DEIC (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e pela antiga DIG (Departamento de Investigações Gerais). Esse tipo de currículo atrai amigos, mas também — e principalmente — inimigos figadais. Fontes ouvidas pela reportagem sussurram sobre uma possível conexão com investigações que envolviam milicianos. Coisa pesada.
"Ele sempre foi muito resoluto no trabalho, direto", lembra um colega de corporação que preferiu não se identificar. O medo é tangible. Quem fala demais, às vezes, cala para sempre.
O Que as Câmeras Revelam (e Ocultam)
As imagens de vigilância da região mostram a frieza do crime. Os assassinos agiram com uma precisão que dá arrepios. Entram em cena, executam a missão e evaporam no ar noturno. O carro utilizado, um Toyota Corolla, foi roubado pouco antes em São Paulo. Placa clonada, claro. Tudo muito ensaiado.
A Polícia Civil trabalha com algumas linhas de investigação, mas a principal pista é aquela frase de alerta do próprio Rodrigo. Ele sabia de algo? Sentia o perigo se aproximando? Morar "sozinho no meio deles" soa menos como uma escolha e mais como uma sentença.
O Clima de Medo e as Perguntas Sem Resposta
O caso joga um holofote cruel sobre a escalada da violência e o poder de fogo de grupos criminosos — milícias ou não — no litoral paulista. Até quando? Quantos mais precisam ser silenciados antes que a justiça, de verdade, seja feita?
O corpo de Rodrigo foi velado e cremado em São Paulo. Restam a saudade da família e a promessa — sempre a promessa — de que as autoridades farão de tudo para elucidar o caso. A população, porém, já está cansada de promessas. O que queremos são respostas.