
Parece até coisa de outro mundo, mas faz exatamente 35 anos que o Brasil ganhou um presente sobre rodas que viria a se tornar uma lenda. Era agosto de 1990, e a Fiat, sem fazer muito alarde — quem diria! —, colocava nas ruas o Uno Mille. O primeiro carro 1.0 do país.
Não foi só um lançamento qualquer. Foi uma revolução silenciosa. De uma hora para outra, ter um carro próprio, econômico e até relativamente acessível deixou de ser um sonho distante para milhares de brasileiros. O Mille chegou com um preço que deixou todo mundo de queixo caído: US$ 6,2 mil na época, algo em torno de CR$ 13,5 milhões — uma pechincha se comparado ao que se via por aí.
Não Era Só um Carro, Era a Concretização de um Sonho
O que tornou o Uno Mille tão especial desde o primeiro instante? Talvez a combinação mágica de fatores que ninguém mais parecia oferecer. Ele era leve, dono de um motor 1.0 de quatro cilindros que, pasmem, rendia incríveis 50 cavalos de potência. E olha que naquela época isso era mais do que suficiente para enfrentar ladeiras e garantir uma dirigibilidade surpreendente.
E o consumo? Ah, esse era o seu cartão de visitas. Diziam as más línguas — e os testes da época confirmavam — que ele fazia nada menos que 14,5 km/l na estrada. Num país onde o preço da gasolina sempre foi um drama, isso soava como um milagre. Quase um carro de brinquedo que funcionava de verdade.
Um Sucesso Imediato e Avassalador
O público entendeu na hora a proposta. E respondeu na mesma moeda. O Mille não foi bem recebido; foi abraçado, adotado, celebrado. As vendas decolaram de um jeito que até a Fiat deve ter se surpreendido. Em pouco tempo, era o carro mais vendido do Brasil — um título que carregou com orgulho por anos a fio.
E não era só pelo preço ou economia. Havia algo a mais. Ele era prático, fácil de dirigir, um tanque de guerra de tão resistente. Mecânicos adoravam, porque era simples de consertar. Donos de primeiro carro vibravam, porque era fácil de manter. Famílias comemoravam, porque cabia todo mundo — ou quase.
O Fim da Linha e o Legado que Nunca Morre
Tudo que é bom um dia acaba? Pois é, mas nem sempre. O Uno Mille deixou de ser produzido em 2020, depois de uma jornada gloriosa de três décadas. Trinta anos! Quantos produtos conseguem isso? Pouquíssimos.
Mas a sua saída de cena não apagou a sua história. Muito pelo contrário. Ele se transformou em um ícone cultural, um símbolo de uma época. Quem nunca ouviu uma história de um Uno Mille que ‘subia serra como se não houvesse amanhã’? Ou que ‘aguentava toda sorte de maus-tratos e nunca pifava’?
Hoje, 35 anos depois do seu lançamento, ele não é lembrado com saudosismo vazio. É celebrado como um marco. O carro que democratizou o acesso ao automóvel no Brasil, que quebrou barreiras e virou parte do imaginário popular. Um verdadeiro herói nacional sobre quatro rodas.
E a pergunta que fica é: será que algum carro será capaz de repetir um feito desses? Difícil. Muito difícil. Algumas lendas são únicas.