
Era outono de 1974, e um frio incomum cobria a Inglaterra. Em uma casa tranquila em Tanworth-in-Arden, um silêncio pesado quebrou a rotina. Nick Drake, um jovem de apenas 26 anos com um talento que poucos souberam valorizar em vida, foi encontrado sem vida em sua cama. A notícia abalou o cenário musical — não pelo estrondo de uma fama repentina, mas pelo sussurro trágico de uma carreira interrompida.
O legado de Drake é, até hoje, uma tapeçaria de melancolia e genialidade não reconhecida. Ele não era um astro pop; era um poeta da guitarra, um compositor que tecia canções como quem escreve cartas para si mesmo. Mas a história oficial? Ah, a história oficial sempre simplifica demais as coisas.
Não foi apenas uma overdose
O laudo policial apontou overdose de antidepressivos — especificamente, Triptizol. Mas reduzir a morte de Nick Drake a um mero acidente com remédios é ignorar o contexto sombrio que a rodeava. Ele estava mergulhado em uma depressão profunda, daquelas que silenciam a alma e roubam a vontade de criar. Seus últimos meses foram de retiro quase total: evitava amigos, cancelava shows e vivia enclausurado na casa dos pais.
Há quem diga que a overdose não foi intencional. Outros, porém, enxergam naquelas pílulas um gesto definitivo — um adeus sem explicações. A verdade? Talvez esteja perdida entre as notas de suas canções.
Um álbum póstumo e o peso do reconhecimento tardio
Ironia das cruéis, foi apenas depois de morto que Nick Drake ganhou o mundo. Seu último trabalho, Pink Moon, é hoje considerado uma obra-prima atemporal — um disco raw, minimalista, que soa como um suspiro final. Na época, vendeu menos de cinco mil cópias. O reconhecimento massivo veio tarde demais.
Em 2025, mais de cinquenta anos depois de sua morte, sua música ainda ressoa com uma intensidade quase dolorosa. Artistas de todos os estilos citam sua influência. Sua vida curta e sombria virou símbolo do artista incompreendido — aquele que paga um preço alto por sua sensibilidade.
O inverno interior de um artista
Drake não era apenas “um cara triste”. Sua depressão era alimentada pela frustração artística, pela sensação de estar falando com uma plateia vazia. Ele tentou seguir carreira, mas a indústria não sabia o que fazer com alguém tão… diferente. Tão quieto. Tão verdadeiro.
E então, naquela manhã de outono, tudo terminou. Seu corpo foi descoberto pela própria mãe, Molly Drake. Ela encontrou-o ainda deitado, com um livro aberto ao lado — The Myth of Sisyphus, de Albert Camus. Não dá pra ignorar o simbolismo.
Nick Drake partiu cedo demais, mas sua música permanece. E cada audição de Pink Moon ou River Man é como acender uma vela na escuridão — um gesto pequeno, mas cheio de significado.
Às vezes, a arte sobrevive ao artista. E, no caso dele, sobrevive com uma força que nem a morte conseguiu calar.