
O coração do Pará sangrou nesta sexta-feira. Num daqueles dias que a gente nunca esquece – mesmo querendo. Famílias destroçadas, amigos em prantos, uma dor que nem o sol forte do meio-dia conseguiu aquecer. As vítimas paraenses daquele acidente absurdo em Goiás, sabe aquele com o ônibus da UFPA que virou notícia nacional?, finalmente puderam descansar.
E olha, não foi fácil. Nem um pouco. Os caixões, cobertos com a bandeira do estado, chegaram cedinho. Alguns parentes nem conseguiam ficar de pé – tinha que segurar mesmo. "É muito cedo pra ela ir embora", soluçava uma senhora, abraçando a foto da neta como se o mundo todo dependesse daquele pedaço de papel.
O peso do adeus
Os detalhes? Cada um mais cruel que o outro. Aquele ônibus levava estudantes cheios de planos – pesquisa de campo, diziam. Virou um pesadelo na BR-153. E agora, semanas depois, o que sobrou foi isso: velas, flores murchando no calor e um silêncio que doía mais que grito.
Na capela, o ar parecia ter engrossado. Os discursos oficiais tentavam amenizar, mas convenhamos – nessas horas, nenhuma palavra cola direito. Até o prefeito, sempre tão eloqüente, engasgou no meio do discurso. "Perdi as palavras", confessou, limpando os óculos com um lenço já encharcado.
Marcas que não saem
Fora dali, a cidade respirava diferente. Nas esquinas, grupos comentavam em voz baixa. Nas redes sociais, as homenagens pipocavam – fotos, vídeos, mensagens que nunca seriam lidas pelos destinatários. Até os comerciantes próximos ao cemitério fecharam as portas por respeito. "Nem pensei duas vezes", justificou o dono do bar da esquina, enquanto arrumava as cadeiras vazias.
E assim foi. Um enterro atrás do outro, cada um com sua história trunfada no meio. Estudantes promissores, professores dedicados, sonhos interrompidos na curva errada de uma rodovia. O que dizer? Às vezes a vida prega peças tão cruéis que nem a fé mais blindada explica.
Enquanto isso, as investigações continuam. Promessas de apurar até o fim, de responsabilizar quem for preciso. Mas hoje, no Pará, o que importava mesmo era despedir. E tentar, de algum jeito, seguir em frente – mesmo sem saber direito como.