
O clima no Hospital de Urgência de Teresina está tenso — e não é por causa dos pacientes febris. Desde quarta-feira (7), os anestesistas simplesmente deram um basta. Caneta vermelha no orçamento? Eles responderam com caneta vermelha na escala de plantão.
"Quando o governo brinca com nosso salário, a gente para de brincar de salvar vidas", soltou um dos médicos que preferiu não se identificar — ironicamente, enquanto ajustava a máscara cirúrgica cobrindo metade do rosto.
O estopim
Tudo começou com um daqueles comunicados internos que ninguém quer receber: redução de 30% nos honorários dos plantões. A justificativa? "Ajuste fiscal", é claro. Só que para os profissionais, soou mais como "ajuste na corda bamba" — sem rede de segurança.
Resultado: mais de 15 cirurgias de emergência canceladas só no primeiro dia. Pacientes com fraturas expostas, apendicites supuradas e até um caso de aneurisma cerebral tiveram que esperar. "É como desligar o oxigênio do hospital", comentou uma enfermeira, enquanto reorganizava fichas de procedimentos adiados.
Efeito dominó
- UTI sobrecarregada com pacientes que deveriam estar no centro cirúrgico
- Familiares recebendo a notícia do adiamento sem previsão
- Equipes de outras especialidades com "mãos atadas" — literalmente
E o pior? Ninguém sabe quando essa ciranda vai parar. A Secretaria de Saúde prometeu "reavaliar a situação", mas até agora só emitiu notas cheias de juridiquês que não convenceram ninguém. Enquanto isso, os relógios dos centros cirúrgicos continuam parados — assim como a paciência de quem depende deles.
"Já vi greve de ônibus atrapalhar o dia, mas greve de anestesista atrapalha a vida", resumiu um senhor de 68 anos que aguardava uma cirurgia de hérnia estrangulada. Sua filha completou, entre lágrimas: "Parece que a dor do corte no orçamento dói mais que a nossa".