
Quem disse que cemitério é lugar de tristeza? José Ivanildo da Silva, um artesão de 62 anos natural de Pão de Açúcar, no interior de Alagoas, provou que até a morte pode ser motivo de celebração — literalmente.
Na última sexta-feira, 19 de setembro, ele não só completou mais um ano de vida como também inaugurou… o próprio túmulo. Sim, você leu certo.
Com uma serenidade que poucos entendem, Ivanildo — ou Seu Ivan, como é conhecido — decidiu há algum tempo que não queria deixar sua última morada nas mãos dos outros. Afinal, ele já havia construído quase tudo na vida com as próprias mãos. Por que não o repouso eterno?
Uma festa entre lápides e memórias
O cenário não poderia ser mais surreal: mesas postas, bolo decorado, refrigerante gelado e dezenas de amigos e familiares circulando entre os jazigos do Cemitério São Sebastião. Teve até parabéns pra você, velas sopradas e muitos abraços.
— É uma forma de mostrar que a morte faz parte da vida, explicou Seu Ivan, sem nenhum traço de melancolia. — A gente tem que encarar com naturalidade. E eu quis fazer do meu jeito.
O túmulo, todo em alvenaria e já com placa nominal, foi construído por ele mesmo ao longo de semanas. Nada de luxo ou excessos — apenas o necessário, feito com as mãos de quem sempre viveu do artesanato e dos serviços gerais.
Reações? Das mais variadas
Alguns acharam estranho. Outros, corajoso. Teve quem estranhasse a ideia de comemorar aniversário em um cemitério, mas no fundo, todos respeitaram. Afinal, não é todo dia que você vê alguém tão em paz com a própria finitude.
— No começo eu achei meio mórbido, confesso, disse uma amiga da família. — Mas depois vi que era pura celebração. Ele tá vivendo o agora, mas já garantiu o depois.
E não para por aí. Seu Ivan já deixou claro: quer ser velado dentro do caixão que ele mesmo também está construindo. Tudo feito por suas mãos, do início ao fim. Que história, hein?
Pois é. Enquanto muita gente evita até falar sobre o assunto, esse artesão alagoano transformou tabu em motivo de alegria — e ainda de quebra deu um exemplo raro de desapego e lucidez.
No final das contas, a vida é isso: uns chegam, outros partem. E o Seu Ivan? Ele já garantiu sua partida — mas ainda está muito bem aqui, obrigado.