
Quem disse que os limites do corpo definem o tamanho dos sonhos? Em Santa Catarina, uma jovem que poderia ser vista como 'frágil' pela sociedade está provando exatamente o contrário — com letras, emoção e uma força que parece brotar direto da alma.
Aos 22 anos, essa guerreira — que prefere não expor seu nome — transformou cada desafio da paralisia cerebral em degraus para alcançar algo extraordinário: o título de escritora. E olha que a jornada não foi nada fácil. Criada em um abrigo desde os 5 anos, ela encontrou nas palavras o refúgio que muitos buscam a vida inteira.
Das dificuldades às páginas que emocionam
"Quando as pernas não obedecem, a mente voa mais alto" — essa poderia ser a epígrafe da sua vida. Seu livro, lançado no mês passado, já está fazendo barulho (do bom!) nas redes sociais. Não é à toa: a obra mistura memórias do abrigo com contos fantásticos que parecem saídos de um universo paralelo.
Os cuidadores contam que ela começou a escrever ainda criança, segurando a caneta com os dedos dos pés. "A gente via aquela determinação e ficava sem palavras", lembra uma das assistentes do abrigo, emocionada. "Ela tinha um caderno que chamava de 'meu mundo sem limites' — e agora esse mundo está impresso!".
O processo criativo que desafia lógicas
Escrever? Para ela, é quase uma dança. Usa um teclado adaptado com os pés, letra por letra, num ritmo que muitos considerariam lento — mas que produz frases de tirar o fôlego. "Às vezes passo a noite toda acordada", revela, com um sorriso que desafia qualquer noção de limitação. "As ideias vêm quando querem, e eu preciso capturá-las."
O livro — cujo título mantemos em segredo por pedido da autora — fala de temas pesados com uma leveza que só quem viveu na pele poderia alcançar. Abandono? Vira pano de fundo para histórias de reinvenção. Solidão? Transforma-se em personagem misteriosa que ensina lições duras, porém necessárias.
"Ela reescreveu seu destino"
A diretora do abrigo não esconde o orgulho: "Quando chegou aqui, muitos duvidavam que ela sequer aprenderia a comunicar-se. Hoje, comunica-se com milhares através das páginas". A tiragem inicial esgotou em duas semanas — feito raro para autores iniciantes, ainda mais sem estrutura de grande editora.
E o que vem por aí? "Quero mostrar que nossa mente é o único território realmente livre", adianta a jovem, já trabalhando no segundo livro. Dessa vez, uma ficção científica que — pasmem — questiona justamente os conceitos de "normalidade" que tanto a incomodaram na vida.
Enquanto isso, nas prateleiras das poucas livrarias que já receberam a obra, acontece um fenômeno curioso: leitores relatam sair da leitura diferentes. Mais leves. Mais corajosos. Como se aquelas páginas tivessem o poder raro de transformar adversidade em arte — e arte em esperança.