
Eis que, em mais um daqueles capítulos que só o Supremo Tribunal Federal sabe escrever, o ministro Gilmar Mendes resolveu apertar o botão de pausa. Na tarde desta quinta-feira (19), o placar do jogo político-jurídico virou de forma inesperada. O julgamento que analisava a validade das escutas telefônicas da Operação Sevandija — um dos braços da Lava Jato em Ribeirão Preto — foi simplesmente suspenso. A razão? Um pedido de vistas do ministro, aquele recurso clássico que pode significar desde uma análise meticulosa até uma manobra tática de altíssima complexidade.
Não foi uma decisão unânime, longe disso. A sessão já estava rolando, os votos estavam sendo expostos, quando Gilmar interveio. Ele justificou que precisava de mais tempo para “amadurecer” seu voto, analisando com a lupa os autos do processo que já tem mais de 700 páginas. O caso, que discute se as interceptações feitas pela força-tarefa foram legais ou não, agora fica em stand-by. E ninguém sabe por quanto tempo.
O que está em jogo, afinal?
No centro da trama está a velha discussão sobre os limites da investigação. Até onde os procuradores podem ir para desvendar um esquema de corrupção? As escutas, que captaram conversas de investigados, são válidas ou feriram direitos fundamentais? Perguntas complexas, que dividem até os especialistas.
O ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, já havia dado seu veredito: para ele, as escutas eram válidas. Sim, houve quebra de sigilo de advogados, admitiu, mas isso não invalidaria todo o resto do material. Do outro lado, a defesa dos investigados argumenta que a quebra foi generalizada e que contaminou tudo — uma tese que encontrou eco em parte do tribunal.
E agora? Agora, tudo depende de Gilmar. O pedido de vistas joga uma cortina de incerteza sobre o processo. Pode ser semanas, pode ser meses. Enquanto isso, o andamento de processos derivados da operação fica travado. Quem comemora? Quem se preocupa? O jogo de xadrez do Judiciário brasileiro segue mais imprevisível do que nunca.
Resta esperar. E torcer para que a pausa seja produtiva — e não apenas mais um movimento num tabuleiro que parece infinito.