Centrão Acelera Saída do Governo e Resgata Pautas com Julgamento de Bolsonaro — Entenda a Jogada
Centrão usa julgamento de Bolsonaro para pressionar governo

Parece que a velha máxima política de "nunca deixar uma boa crise ir para o lixo" está mais viva do que nunca em Brasília. Enquanto o plenário do Tribunal Superior Eleitoral se prepara para o julgamento que pode tornar Jair Bolsonaro inelegível, um movimento nos bastidores chama a atenção — e não é exatamente pelo que você pensa.

Os partidos que formam o famoso — e por vezes temido — Centrão estão, sim, de olho no desfecho do processo. Mas o foco principal? Aproveitar a comoção para forçar a mão do Planalto e tirar da gaveta uma série de projetos que interessam diretamente à base aliada. É puro xadrez político, e as peças estão se movendo rápido.

O jogo por trás do julgamento

O que está em jogo vai muito além da possibilidade de o ex-presidente não poder disputar eleições. A verdade é que a situação criou uma rara janela de oportunidade. Líderes partidários já deixaram claro: o apoio ao governo nas votações mais delicadas — incluindo a reforma tributária — está, como se diz no popular, "com o preço na etiqueta".

E o preço não é baixo. A lista de demandas inclui desde a liberação de emendas parlamentares (sempre elas) até a indicação de nomes para cargos-chave em estatais e ministérios. Há ainda uma pressão forte pela aprovação de projetos que beneficiam setores específicos, como o tão falado marco legal dos jogos de azar.

Uma negociação de alto risco

O Palácio do Planalto, por sua vez, se vê encurralado. De um lado, precisa garantir os votos para sua agenda econômica, considerada vital para os próximos anos. Do outro, resiste a ceder demais a um grupo que, convenhamos, não é exatamente conhecido por sua discrição ou fidelidade.

O clima nos corredores do Congresso é de expectativa contida. Alguns deputados, mesmo aliados do governo, confessam off the record que "agora é a hora de pescar". A expressão, embora pouco elegante, traduz com precisão o momento: uma mistura de oportunismo calculado e realpolitik.

Não se engane, porém. Isso não é uma rebelião ou uma ameaça de ruptura. É bem mais pragmático do que isso. Trata-se de realinhar forças, lembrar ao Executivo quem detém o poder de fazer — ou desfazer — a governabilidade e, claro, garantir que interesses eleitorais e corporativos sejam atendidos.

O julgamento no TSE, portanto, funciona como o cenário perfeito para essa encenação de poder. Uma distração midiática de alto calibre que permite negociatas nos bastidores longe dos holofotes excessivos.

O que virá a seguir? Difícil dizer. Mas uma coisa é certa: em Brasília, até as crises mais sérias viram moeda de troca. E nesse jogo, o Centrão parece ter aprendido todas as regras — e como quebrá-las quando convém.