
Parece que a ideia de um Estado Palestino — aquela velha discussão que já dura décadas — está prestes a enfrentar seu maior revés. E não é exagero. Fontes próximas ao governo de Israel revelaram um plano que, na prática, fragmentaria de vez qualquer possibilidade de autonomia territorial palestina.
Não se trata apenas de mais um capítulo nesse conflito interminável. É algo mais profundo, quase uma redefinição geográfica. O que está sendo proposto é uma divisão do território palestino em três cantões isolados, cada um cercado por assentamentos israelenses e controlado militarmente por Israel. Imagine viver em uma ilha cercada por seu maior opositor por todos os lados. Como isso funcionaria na prática? Mal.
Os Três Cantões: Uma Autonomia Ilusória
O plano, que já circula em gabinetes ministeriais, divide a Cisjordânia em:
- Norte: região de Jenin e Nablus, cercada por barreiras.
- Centro: área de Ramallah, com mobilidade restrita.
- Sul: Belém e Hebron, completamente enclausuradas.
Entre uma área e outra? Estradas controladas por Israel, postos de checagem, muros. Uma conectividade zero. Nada de continuidade territorial — requisito básico para qualquer Estado que se pretenda soberano. É como dar as chaves de uma casa, mas trancar todos os cômodos por dentro.
O Silêncio Estratégico de Netanyahu
Netanyahu não fala abertamente sobre o tema — pelo menos não ainda. Mas analistas políticos veem nessa proposta uma jogada calculada. Após os recentes conflitos, a opinião pública israelense pressiona por segurança, e fragmentar a Palestina seria, sob esse ponto de vista, uma forma de controlar possíveis focos de resistência.
Mas é claro que o mundo não vai ficar quieto. A Liga Árabe, a União Europeia e até mesmo os Estados Unidos — tradicional aliado de Israel — já sinalizaram preocupação. Um diplomata europeu, que preferiu não ter seu nome divulgado, resumiu a situação com uma frase: “Isso não é um plano de paz. É uma receita para mais conflito.”
E a Reação Palestina?
Do lado palestino, a resposta é de indignação, mas também de certa desesperança. Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, classificou a proposta como “anexação disfarçada”. E não é difícil entender por quê.
Sem unidade territorial, não há como ter economia estável, livre circulação ou qualquer projeto nacional de longo prazo. Os palestinos ficariam confinados a bolsões de terra, dependentes de permissões israelenses para quase tudo — de comércio a saúde.
Não é de hoje que Israel expande assentamentos na Cisjordânia. Mas esse plano eleva a aposta a um patamar novo, quase definitivo. Ele não deixa espaço para negociação futura. Enterra a solução de dois Estados — ainda que muitos digam que essa solução já estava em coma há anos.
Resta saber se a comunidade internacional vai aceitar essa nova realidade ou se reagirá de forma mais contundente. Enquanto isso, no terreno, a vida de milhões de palestinos — e a segurança de israelenses — segue pendurada em um fio cada vez mais fino.