
Parece que o vento em Buenos Aires mudou de direção – e não é metáfora. Numa guinada que deixou muitos de queixo caído, a oposição peronista deu um verdadeiro baile nas eleições legislativas deste domingo na capital. A coalizão de esquerda Unión por la Patria, herdeira do kirchnerismo, não apenas venceu: esmagou.
Com quase 90% das urnas apuradas, os números não mentem – e doem. 27,7% para a esquerda contra míseros 26,4% dos libertários de Milei. Uma diferença que, ainda que pequena numericamente, carrega o peso simbólico de um terremoto político.
O troco do eleitorado portenho
Buenos Aires, aquela mesma cidade que embarcou no discurso anti-establishment de Milei há poucos meses, agora parece se arrepender amargamente. Quem diria, hein? A capital, tradicional termômetro do humor político argentino, enviou uma mensagem cristalina: a paciência com os ajustes radicais está se esgotando.
E não foi por falta de aviso. Os cortes brutais em subsídios, o congelamento de obras públicas, a inflação que continua devorando salários – tudo isso criou um caldo de descontentamento que transbordou nas urnas. O povo aguenta, mas até certo ponto.
O que significa essa virada?
Além da obvious humilhação simbólica, há consequências muito concretas. A derrota em Buenos Aires – reduto que deveria ser natural para um governo de direita – expõe as rachaduras no projeto mileista. E como expõe!
Os peronistas, aqueles mesmos que muitos davam como enterrados, ressuscitaram com uma força surpreendente. A máquina política do kirchnerismo, que parecia enferrujada, mostrou que ainda sabe jogar o jogo eleitoral quando necessário.
E agora, Milei? O presidente, conhecido por seu temperamento… digamos, explosivo, terá que engolir um dos sapos mais amargos de sua carreira política. Sua base parlamentar, já frágil, fica ainda mais vulnerável. As reformas radicais que prometeu? Difíceis de implementar. Seu capital político? Definitivamente não está mais nas alturas.
O cenário que se desenha é de um governo acuado, encurralado por uma oposição revitalizada e por uma população cada vez mais impaciente com as receitas ortodoxas. Resta saber se Milei tentará moderar seu rumo – ou se dobrará a aposta no radicalismo.
Uma coisa é certa: a política argentina, sempre dramática, promete novos capítulos turbulentos. E Buenos Aires, com seu voto de protesto, acaba de virar o primeiro ato desse novo drama.