ONU em Foco: Conflitos na Gaza e Ucrânia Dominam Assembleia Geral em Meio a Eleições Americanas
ONU: Gaza e Ucrânia dominam Assembleia Geral sob tensão eleitoral

Nesta terça-feira, o mundo para. Ou pelo menos deveria parar para prestar atenção ao que se desenrola em Nova York. A 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas começa, e o clima é de uma tensão quase palpável, daquelas que se sente no ar antes de uma tempestade. Os corredores da sede internacional já sussurram sobre os temas que prometem incendiar os debates.

E não é para menos. Duas guerras de proporções devastadoras – a ofensiva implacável de Israel na Faixa de Gaza e a invasão russa na Ucrânia – serão o centro das atenções, pairando sobre os discursos como fantasmas indomáveis. O secretário-geral, António Guterres, já deu o tom: sua agenda prioritária é um apelo urgente por um cessar-fogo imediato em Gaza e a liberação incondicional de reféns. Uma missão hercúlea, convenhamos.

Os Protagonistas e suas Arenas Discursivas

Os holofotes, é claro, estarão voltados para as principais lideranças. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, sobe ao púlpito em um momento delicadíssimo. Enquanto tenta projetar uma imagem de estabilidade frente às crises globais, sua campanha para a reeleição navega em águas turbulentas domestica mente. Todos se perguntam: como ele equilibrará o apoio firme a Israel com a pressão internacional crescente pelo fim dos bombardeios?

Do outro lado do espectro, Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, chega com a moral abalada pelos recentes revezes no campo de batalha, mas com a retórica afiada de sempre. Seu discurso será crucial para garimpar apoio militar e financeiro num momento em que a fadiga de guerra começa a assomar entre alguns aliados. É a arte da persuasão em sua forma mais crua.

E não podemos esquecer do elefante na sala – ou melhor, da sua inevitável sombra. As eleições americanas de novembro. Esse evento futuro, imprevisível como um vulcão adormecido, influencia cada gesto, cada palavra pronunciada no salão. Os líderes globais calculam cada movimento pensando no que pode vir a ser a política externa de um possível governo Trump. É um jogo de xadrez com peças que ainda não foram reveladas.

Além dos Conflitos: A Agenda da Sustentabilidade

Mas a assembleia não é só guerra e estratégia política. Longe disso. Paralelamente aos debates mais explosivos, ocorre a Cúpula do Futuro. Esse evento foca em propostas ambiciosas – talvez utópicas para alguns – para acelerar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São discussões sobre mudanças climáticas, equidade global e cooperação internacional que, em um mundo ideal, seriam a pauta principal. Mas, sabe como é, os fogos da guerra ofuscam até mesmo a ameaça existencial do aquecimento global.

Uma curiosidade que não passa despercebida pelos observadores mais atentos: a ausência física de alguns mandatários de peso, como o francês Emmanuel Macron e o britânico Rishi Sunak, representados por seus chanceleres. Será um sinal de despriorização ou mera logística? Em diplomacia, até uma cadeira vazia envia uma mensagem.

No fim das contas, esta Assembleia Geral se configura como um espelho fiel de nosso tempo conturbado. Um palco onde a esperança por soluções diplomáticas esbarra na dura realidade dos conflitos armados. Onde discursos de paz ecoam em salas cujas decisões, frequentemente, ficam aquém do necessário. Resta saber se, desta vez, a retórica será capaz de gerar ações concretas. Torcemos, mas sem segurar muito o fôlego.