
Parece que o planeta inteiro resolveu marcar encontro em Manhattan nesta época do ano. Não é à toa. Enquanto os termômetros ainda marcavam o final do verão no hemisfério norte, os holofotes da geopolítica já estavam acesos e apontados para a ilha, muito antes dos discursos formais naquele famoso salão verde da ONU.
O que realmente chama a atenção, no entanto, é o tom dessa reunião. Diferente de outros anos — aqueles em que as conversas pareciam mais protocolares —, a sensação agora é de urgência. Uma certa apreensão no ar. Os corredores diplomáticos, esses que normalmente sussurram, estão cheios de vozes graves discutindo temas que, francamente, soam como enredos de filmes catástrofe: a guerra na Ucrânia, que teima em não encontrar um fim, e as mudanças climáticas, que deixaram de ser uma ameaça futura para se tornarem uma crise presente.
Os Encontros que Definem a Agenda
E no meio desse burburinho, figuras-chave roubam a cena. O presidente Lula, por exemplo, tinha uma agenda que daria frio na espinha de qualquer assessor. Na terça-feira, ele se reuniu não apenas com o secretário-geral da ONU, António Guterres, mas também deu um pulo — se é que se pode chamar de 'pulo' um encontro de altíssimo nível — no *Climate Ambition Summit*. Um espaço que, diga-se de passagem, não era para qualquer um. Só conseguiu o palco quem apresentou planos concretos e ambiciosos contra a crise do clima. Lula estava lá.
Mas a agenda brasileira não parou por aí. Na quarta-feira, a coisa ficou ainda mais séria. Era a vez de sentar à mesa com ninguém menos que Joe Biden, o presidente dos Estados Unidos. Um encontro bilateral que, nas entrelinhas, ia muito além dos cumprimentos de praxe. Havia um pano de fundo claro: realinhar uma relação que, convenhamos, passou por maus bocados nos últimos anos.
O que Esperar dos Discursos?
O grande palco, é claro, é a Assembleia Geral em si. E todos os olhos — e ouvidos — estarão voltados para o que Lula dirá. A expectativa geral é que o discurso do presidente brasileiro seja uma verdadeira defesa de um mundo multipolar. Traduzindo: a ideia de que nenhuma nação deve mandar sozinha, e que é preciso fortalecer instituições multilaterais, justamente como a ONU.
É uma mensagem poderosa, especialmente em um momento em que conflitos regionais e tensões entre grandes potências ameaçam a já frágil estabilidade global. O Brasil, parece, quer se colocar como uma voz mediadora, um país que busca pontes em um cenário cheio de muros.
No fim das contas, a agitação em Nova York antes da Assembleia é mais do que apenas uma reunião de rotina. É um termômetro. Um indicador claro de que os desafios de 2023 são tão complexos que não podem esperar pelos discursos formais para começarem a ser tratados. As conversas importantes, afinal, sempre começam nos bastidores.