
Não foi sem revolta que o comissário da OEA, Eduardo Ferrer, reagiu à notícia. O Brasil — que sempre se orgulhou de ser um "país de acolhida" — resolveu dar as costas à Aliança Internacional para Memória do Holocausto. Uma jogada no mínimo curiosa, ainda mais num momento em que discursos de ódio voltam a assombrar o mundo.
"É um tiro no pé", disparou Ferrer, sem meias palavras. Segundo ele, a saída do país do grupo — que reúne 35 nações comprometidas com a preservação da memória das vítimas nazistas — envia "o pior dos sinais".
O que está por trás da decisão?
Fontes do Itamaraty garantem que a mudança é "técnica". Dizem que o Brasil continuará combatendo o antissemitismo, só que por outros mecanismos. Mas será mesmo? Especialistas ouvidos pela reportagem não engoliram a explicação.
- O timing é péssimo: coincidiu com a visita de um ministro israelense
- O grupo exigia relatórios anuais sobre combate ao antissemitismo — burocracia que o Brasil parece não querer mais
- Nos bastidores, fala-se em pressão de setores que negam a gravidade do Holocausto
Não dá pra ignorar o contexto. Nas últimas semanas, vídeos com teorias conspiratórias sobre judeus viralizaram em grupos bolsonaristas. E agora isso. "Parece que alguém esqueceu que o Brasil abrigou o maior número de sobreviventes nazistas depois da guerra", ironizou um professor de relações internacionais.
E as consequências?
Além do desgaste diplomático — Israel já deu sinais de irritação —, há o risco concreto de o país perder voz em fóruns importantes. "É como se voluntariamente o Brasil resolvesse sair da mesa dos adultos", comparou uma embaixadora aposentada.
O pior? A decisão foi tomada às pressas, sem consultar especialistas. "Mais um capítulo dessa política externa que parece escrita no verso de um guardanapo", resmungou um diplomata, pedindo anonimato.