Hiroshima: 80 anos da bomba atômica que mudou o mundo para sempre
Hiroshima lembra os 80 anos da bomba atômica com cerimônia emocionante

O vento carregava cinzas naquele 6 de agosto de 1945 — um dia que começou como qualquer outro e terminou reescrevendo a história da humanidade. Hoje, o mundo volta os olhos para Hiroshima, onde o relógio da memória marca 80 anos do primeiro ataque nuclear da história.

Às 8h15 da manhã (horário local), o silêncio foi quebrado por sinos e orações no Parque Memorial da Paz. Sob um sol escaldante — ironicamente igual ao daquela manhã fatídica — sobreviventes, diplomatas e cidadãos comuns se reuniram para o que os japoneses chamam de "hibakusha": a cerimônia anual que mantém viva a lembrança dos mais de 140 mil mortos.

O peso da memória

"Parecia que o sol havia caído sobre a cidade", descreve Michiko, 92 anos, uma das últimas testemunhas oculares. Seus dedos trêmulos traçam círculos no ar enquanto fala — um gesto que repete há décadas ao narrar o cogumelo nuclear que engoliu sua infância.

O prefeito Kazumi Matsui foi incisivo em seu discurso: "Essas armas não são instrumentos de segurança, mas de terror absoluto". Entre as cadeiras vazias reservadas às vítimas, muitos seguravam fotos desbotadas de parentes que viraram sombras eternas nas paredes da cidade.

Lições não aprendidas?

Enquanto pombas brancas eram soltas sobre o "Domo da Bomba" — esqueleto de concreto que resistiu à explosão —, analistas apontavam para os nove países que hoje ostentam cerca de 13 mil armas nucleares. Um paradoxo doloroso: Hiroshima se tornou símbolo da paz justamente por ter sofrido o inimaginável.

  • 14.000 toneladas de TNT: poder destrutivo da "Little Boy"
  • 90% dos edifícios destruídos em segundos
  • Gerações de sobreviventes ainda sofrem com sequelas radioativas

E no meio disso tudo, uma pergunta que ecoa: será que a humanidade realmente aprendeu a lição? O secretário-geral da ONU, presente pela primeira vez em anos, advertiu que "o relógio do Juízo Final nunca esteve tão próximo da meia-noite".

Enquanto isso, nas ruas de Hiroshima, crianças correm entre monumentos memoriais — talvez a maior prova de resiliência que uma cidade pode oferecer. A vida persiste, mas a memória não pode descansar. Não ainda.