Como a extrema-direita japonesa ganhou força com Trump e turistas — e o que isso significa
Extrema-direita no Japão: o papel de Trump e turistas

Não foi da noite para o dia, mas quase. O que parecia um fenômeno marginal no cenário político japonês ganhou asas — e um empurrãozinho inesperado de figuras como Donald Trump e até mesmo de turistas despretensiosos.

Nos últimos anos, grupos nacionalistas no Japão saíram das sombras. E olha que não foi por acaso. Enquanto o mundo assistia ao espetáculo da era Trump, algo parecido — ainda que menos barulhento — acontecia do outro lado do Pacífico.

O efeito dominó transoceânico

Parece exagero? Talvez. Mas quem acompanha a política nipônica de perto nota os paralelos. A retórica anti-imigração, o saudosismo de um "Japão puro", a desconfiança de acordos internacionais — tudo isso ecoa, de forma peculiar, o playbook da direita radical global.

E tem mais: o boom turístico que inundou o país com estrangeiros (sim, incluindo brasileiros descendentes) acabou servindo de combustível paradoxal. "É irônico", comenta um analista que prefere não se identificar. "Quanto mais o Japão se abre ao mundo, mais alguns grupos se fecham."

Os números que assustam

  • Membros de grupos ultranacionalistas cresceram 40% desde 2016
  • Manifestações públicas triplicaram nos últimos 3 anos
  • 63% dos jovens entrevistados apoiam medidas mais duras contra imigrantes

Não é simples xenofobia. É algo mais complexo — uma mistura de orgulho ferido com medo do desconhecido. E, cá entre nós, a forma como certos discursos de Trump foram recebidos por aqui não ajudou em nada.

Turistas: os aliados involuntários

Agora vem a parte que pouca gente percebe. Aquele tsunami de visitantes que lotou Kyoto e Tokyo? Pois é, ele trouxe dinheiro — e também tensão. Casos de "turismo mal-educado" (como chamam por lá) viraram munição para os grupos mais radicais.

"Eles usam cada vídeo de um gringo fazendo bobagem nas ruas como prova de que o Japão está perdendo sua essência", explica uma pesquisadora da Universidade de Osaka. O pior? Funciona.

Mas calma, não é tudo escuridão. A sociedade civil japonesa — aquela que não aparece tanto nos noticiários — tem reagido. Protestos discretos, artigos em revistas acadêmicas, até memes na internet. A resistência existe, ainda que sem estardalhaço.

O que vem pela frente? Difícil prever. Se tem uma coisa que a política japonesa nos ensinou, é que mudanças lá acontecem devagar — até que, de repente, acontecem rápido demais.