
O tabuleiro geopolítico está a ferver, e não é por pouco. Uma espécie de terremoto diplomático, silencioso mas persistente, está a ganhar força nos últimos tempos. E o epicentro desta vez foi Amã, na Jordânia, onde uma cúpula de alto nível juntou pesos-pesados da política internacional com um único propósito na mente: respirar vida nova na cansada, mas mais urgente do que nunca, solução de dois estados para israelenses e palestinos.
O que está a alimentar este súbito ímpeto? Bom, a resposta parece estar espalhada pelas manchetes recentes. Uma verdadeira avalanche de países – Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovênia, Armênia – decidiu, quase em uníssono, reconhecer oficialmente o Estado palestino. Não foi um acaso. Foi um movimento calculado, um recado claro à comunidade internacional de que a inércia já não é uma opção.
Os Atores Chave e a Pressão Conjunta
À mesa de discussões, nomes de grande influência. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, praticamente ditou o tom da reunião com a sua participação virtual. A sua fala foi direta, sem rodeios: é preciso coragem política concreta para transformar a teoria em realidade. Do outro lado, líderes europeus como o espanhol Pedro Sánchez e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, ecoaram a mesma urgência. A União Europeia, aquela entidade por vezes lenta a reagir, parece finalmente estar a acordar para a necessidade de uma ação coletiva.
E o que é que eles propõem, exatamente? A ideia central, que ganhou contornos mais definidos, é a convocação de uma conferência de paz internacional – e isto é crucial – dentro de um prazo determinado. Não se fala mais em "quando as condições permitirem", uma frase vaga que serviu de desculpa durante décadas. O plano é estabelecer um cronograma claro, com etapas mensuráveis, para a criação do Estado palestino. A sensação é de que o cansaço com o status quo ultrapassou um ponto de não retorno.
Os Obstáculos que Persistem no Caminho
No entanto, seria uma ingenuidade pintar um quadro totalmente cor-de-rosa. O caminho para a paz é um campo minado, e todos naquela sala sabiam disso. O governo de Benjamin Netanyahu em Israel mantém uma posição publicamente inflexível, rejeitando a ideia de uma soberania palestina plena. Do lado palestino, as profundas divisões internas entre o Fatah e o Hamas complicam ainda mais qualquer negociação coesa.
E depois há a questão do timing, sempre traiçoeira. Com eleições a aproximar-se nos Estados Unidos e a sombra do conflito em Gaza ainda pairando pesadamente, o cenário é incrivelmente volátil. Alguns analistas sussurram que esta pode ser uma janela de oportunidade que se fecha rapidamente. Outros acreditam que a pressão internacional atingiu uma massa crítica que será difícil de ignorar, independentemente dos ventos políticos.
Uma coisa é certa: a reunião em Amã não foi apenas mais um evento diplomático. Foi um sinal potente de que uma parte significativa do mundo perdeu a paciência. A solução de dois estados, durante anos um mantra repetido sem grande convicção, está a ser empurrada de volta para o centro do palco. Resta saber se os principais atores estarão dispostos a desempenhar os seus papéis.