
Num momento em que o mundo parece fechar as portas, Brasil e México resolveram abrir janelas. O presidente Lula teve nesta terça-feira uma daquelas conversas que valem por dez reuniões de gabinete — um papo direto com seu colega mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
O assunto? Como fazer negócios numa época em que todo mundo quer erguer muros. "Estamos nadando contra a maré", deve ter pensado Lula ao desligar o telefone. Mas é justamente aí que mora a oportunidade.
Números que falam mais que discursos
Só no ano passado, a troca comercial entre os dois países ultrapassou US$ 10 bilhões. Nada mal, mas poderia ser melhor — muito melhor. Os dois líderes enxergam espaço para crescer, especialmente em:
- Energias renováveis (o México tem sol, o Brasil tem tecnologia)
- Indústria automotiva (quem não quer carros mais baratos?)
- Agronegócio (feijão com arroz, mas em escala continental)
"Temos tudo para ser sócios, não concorrentes", resumiu um assessor presidencial que preferiu não ter seu nome divulgado. Faz sentido — enquanto o mundo discute quem paga mais tarifas, Brasil e México podem simplesmente cortá-las.
O elefante na sala: as tarifas americanas
Ninguém falou isso abertamente, mas a sombra do Tio Sam pairava sobre a conversa. Com os EUA apertando o cerco comercial, países como Brasil e México precisam diversificar. E rápido.
"É como ter todos os ovos numa cesta furada", brincou um diplomata experiente. A solução? Colocar alguns ovos na cesta do vizinho — no caso, através do fortalecimento da Aliança do Pacífico, onde o México tem peso, e do Mercosul, onde o Brasil manda.
O timing não poderia ser melhor. Enquanto as grandes potências se distraem com suas brigas, países médios como Brasil e México podem costurar acordos que seriam impensáveis há cinco anos. "É a geopolítica da oportunidade", definiu um analista.
Próximos passos: do discurso à ação
A conversa foi boa, mas agora vem a parte difícil. Os dois presidentes marcaram para as próximas semanas:
- Reunião técnica para desburocratizar o comércio
- Missão empresarial conjunta focada em tecnologia
- Diálogo sobre cooperação em fóruns multilaterais
Será que vai funcionar? Depende. O México tem seus próprios desafios internos, e o Brasil — bem, o Brasil sempre tem seus dramas políticos. Mas a vontade parece existir. E às vezes, na diplomacia, isso já é meio caminho andado.
Uma coisa é certa: num mundo cada vez mais dividido, parcerias como essa podem ser a diferença entre prosperar ou apenas sobreviver. E como dizem os mexicanos: "Más vale solo que mal acompañado" — mas melhor ainda bem acompanhado.