
Eis uma discussão que não sai de moda no Brasil: quem deve pagar mais impostos? Segundo uma pesquisa recente, seis em cada dez brasileiros acreditam que os mais ricos precisam contribuir com uma fatia maior do bolo tributário. Não é surpresa, considerando que o país vive um abismo social digno de filme distópico.
Os números falam por si só — e alto. Enquanto o cidadão comum paga até 27,5% de IRPF, grandes fortunas muitas vezes escapam com alíquotas menores que a de um trabalhador assalariado. Algo cheira mal no reino da tributação, e não é só o cafezinho requentado.
O peso nos ombros errados
"É como fazer o pedestal carregar o peso do arranha-céu", comenta um economista que prefere não se identificar. Ele tem razão: o Brasil cobra mais sobre consumo (52% da arrecadação) que sobre renda e patrimônio (18%). Traduzindo: o pobre paga proporcionalmente mais ao comprar um pão que o milionário ao adquirir um jatinho.
Curiosamente, mesmo entre os entrevistados das classes A e B, 45% apoiam a ideia. Parece que até quem seria "prejudicado" reconhece a distorção do sistema atual. Será sinal de consciência social ou apenas cansaço de ver tanta desigualdade?
O Congresso na berlinda
Enquanto isso, em Brasília, a reforma tributária continua sendo aquele prato que esfria no balcão. Propostas para taxar grandes fortunas — presentes na Constituição desde 1988! — vivem engavetadas. "É sempre bom lembrar que muitos dos que legislam estão entre os 0,1% mais ricos", solta um assessor parlamentar entre um gole de café e outro.
Os especialistas alertam: sem mudanças profundas, continuaremos com esse sistema onde, para parafrasear um velho ditado, os peixes pequenos são pesados e os grandes escapam da rede. E o pior? Quem paga o pato é sempre o mesmo: o trabalhador que mal consegue fechar as contas no fim do mês.