Não foi um sábado qualquer em Teresina. Longe disso. O centro financeiro da capital piauiense, normalmente mais tranquilo nos fins de semana, foi tomado por uma energia que misturava indignação pura e uma determinação de ferro. De repente, as ruas foram invadidas – e não era procissão nem festa popular.
Era gente. Muita gente. Centenas, quiçá milhares de cidadãos comuns, cada um carregando um pedaço de frustração num cartaz, num panfleto, num grito de guerra. O alvo? Dois projetos que andam tirando o sono de meio país: a famigerada PEC da Blindagem e o não menos polêmico PL da Anistia.
O clima era pesado, mas organizado – diga-se de passagem. Por volta das 9 da manhã, o burburinho já anunciava que algo grande estava por vir. Os organizadores, um caldeirão de entidades sindicais e movimentos populares, não mediram esforços. A concentração começou na Praça da Liberdade, um nome que soou quase como uma profecia naquele dia.
O Grito que Ecoou nas Principais Avenidas
Dali, o mar de pessoas não conteve a maré. Seguiu em marcha lenta, mas firme, pela Avenida Frei Serafim. Imagine a cena: uma coreografia espontânea de cartazes coloridos e palavras de ordem cortando o ar quente do semiárido. O destino final era a Ponte Estaiada, o cartão-postal moderno da cidade, que naquele momento se tornou um palco de protesto contra símbolos de um sistema que, para muitos, parece girar fora dos eixos.
E o que eles cantavam? Ah, isso era de doer o ouvido de qualquer político desavisado. Os coros não deixavam margem para dúvidas: "Fora, Blindagem!" e "Chega de Anistia!" eram os refrães que ditavam o ritmo dos passos. Uma senhora, com seus cabelos grisalhos e um olhar que já viu muita coisa, me disse, com a voz embargada: "Cansei. Cansei de ver eles se protegendo enquanto a gente se vira nos 30". Ela resume o sentimento de milhares.
O Cerne da Questão: Por Que Tanta Revolta?
Bom, para quem não está por dentro do fuá, a PEC da Blindagem é, na visão de quem protesta, um salvo-conduto. Uma tentativa de criar um escudo quase impenetrável para autoridades, dificultando processos por supostos abusos. Já o PL da Anistia… bem, esse soa como um perdão geral para dívidas antigas de gestões públicas – um presente de grego para a população que paga impostos em dia.
Não é só birra. É medo. Medo de que a impunidade vire regra. Medo de que a conta, como sempre, sobre para o lado mais fraco. Um jovem estudante de direito, com a face vermelha de tanto gritar, foi categórico: "É um tiro no pé da democracia. Estão legalizando a corrupção". Forte? Talvez. Mas é assim que se sentem.
E a reação do poder? Até agora, um silêncio ensurdecedor. Nenhum representante do governo estadual ou federal veio a público comentar o protesto. O que, claro, só joga mais lenha na fogueira da desconfiança popular.
O fato é que Teresina mandou um recado. Claro e alto. Resta saber se alguém, lá nas altas esferas do poder, vai se dar ao trabalho de ouvir. Ou se vai ser mais um grito perdido no vazio do planalto central.
