
O clima em São Paulo não estava nada ameno neste domingo. Enquanto milhares tomavam as ruas num protesto que ecoava de norte a sul do país, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Motta, decidiu não ficar calado. E quando ele fala, o Planalto ouve.
Numa resposta tão ágil quanto contundente – coisa rara nos corredores do poder – o magistrado disparou: "Essa narrativa de que queremos privilégios é completamente equivocada". A fala, direta e sem rodeios, veio logo após as manifestações que levaram multidões às principais capitais contra a chamada PEC da Blindagem e possíveis anistias.
O que realmente está em jogo?
Para Motta, a questão central vai muito além do que os cartazes nas ruas gritavam. "Estamos falando de preservar a independência do Judiciário", argumentou, com aquela convicção de quem já viu de tudo nesses tribunais. "Sem segurança jurídica, quem paga o pato é sempre o cidadão comum".
E os números impressionam: a PEC 15/2025, que agora divide opiniões pelo país, poderia alterar fundamentalmente como juízes e ministros são responsabilizados. Os críticos veem um afrouxamento perigoso; Motta enxerga um equilíbrio necessário.
O outro lado da moeda
Não foi só da tribuna que o ministro se manifestou. Em conversas nos bastidores – aquelas que normalmente a gente só fica sabendo dias depois – ele deixou claro que o timing dos protestos não é mera coincidência. "Há interesses muito específicos por trás disso tudo", insinuou, sem nomear nomes, mas deixando no ar aquela sensação de que a coisa é mais embaixo.
Ora, mas e os manifestantes? Gente comum, trabalhadores, famílias inteiras que foram às ruas por convicção própria? Motta reconhece o direito de protesto, mas questiona a "narrativa enviesada" que, segundo ele, dominou os atos. "Quando você simplifica demais questões complexas, todo mundo perde", refletiu, num raro momento mais filosófico.
E agora, José?
O fato é que o debate esquentou de vez. De um lado, a pressão popular nas ruas; do outro, a defesa ferrenha de um Judiciário mais autônomo. No meio disso tudo, o Congresso Nacional assiste ao espetáculo enquanto prepara sua próxima jogada.
Motta, por sua vez, parece disposto a bancar o vilão se necessário. "Prefiro ser criticado agora do que ver o país retroceder juridicamente daqui a dez anos", desabafou, numa clara referência aos riscos que enxerga no atual sistema.
Restam dúvidas? Sobram. Mas uma coisa é certa: o ministro não pretende recuar. E São Paulo, que testemunhou parte significativa dos protestos, agora aguarda os próximos capítulos desse embate que promete definir rumos importantes para a nação.