
Quem foi Plácido de Castro? Nem santo, nem demônio — um homem de carne e osso, com contradições tão vastas quanto a selva que ajudou a conquistar. A Revolução Acreana, no início do século XX, não foi um conto de fadas. Foi sangue, suor e estratégia. E no centro dela, um gaúcho de bigode firme e decisões mais duras ainda.
Um líder feito na marra
Nascido em 1873 no Rio Grande do Sul, Plácido não tinha cheiro de herói clássico. Veio para o Acre quase por acaso — como tantos na época — atraído pelo ouro branco: a borracha. Mas o que começou como aventura virou guerra. De repente, ele estava organizando seringueiros, fazendo alianças com indígenas e desenhando táticas de guerrilha que deixariam qualquer general de cabelo em pé.
A revolução que ninguém esperava
Bolívia x Brasil. Era disso que se tratava, no fundo. O Acre, rico em látex, era disputado como um pedaço de carne entre jaguares. Plácido, com seu jeito direto e uma paciência curta para diplomacia, pegou em armas em 1902. Em meses, tomou Puerto Alonso (hoje Rio Branco) num golpe tão ousado que até os bolivianos — que o chamavam de "bandido" — respeitaram, mesmo a contragosto.
Mas e aí? Herói por "libertar" o Acre? Vilão por métodos brutais? A história, como sempre, é um tapete cheio de nós:
- Usou táticas de terror psicológico contra inimigos (queimar cadáveres em fogueiras à vista do acampamento adversário não era exatamente "gentil")
- Defendeu — com unhas e dentes — que o Acre fosse brasileiro, mas criticou o governo federal por abandonar os seringueiros
- Morreu em 1908, assassinado numa emboscada que até hoje tem versões contraditórias
O legado que divide opiniões
No Acre, seu nome está em ruas, escolas e até time de futebol. Mas fora dali? Quase um desconhecido. "Plácido foi um pragmático", diz o historiador Marcos Vinicius Neves. "Ele entendia que, na selva, as regras eram outras." E talvez seja isso: um homem do seu tempo, com virtudes e falhas gigantescas — como a própria Amazônia que ele ajudou a mapear.
Curioso, não? Um gaúcho tornando-se símbolo acreano. A vida escreve roteiros que nenhum romancista ousaria inventar.