
Era uma manhã como qualquer outra em Hiroshima. Até que, em um piscar de olhos, o mundo desabou. Hoje, 80 anos depois, aqueles que sobreviveram ao inferno nuclear ainda carregam cicatrizes que vão muito além da pele.
Quem diria que, depois de tanto tempo, os hibakusha — como são chamados os sobreviventes — ainda precisariam enfrentar olhares tortos e cochichos nos cantos? Pois é. A discriminação teima em não desaparecer, grudada como sombra nos passos dessas pessoas.
Marcas que o tempo não apaga
Na fila do mercado, no consultório médico, até em reuniões familiares. Os relatos são unânimes: muitos ainda escondem seu passado por medo de represálias. "Quando descobrem que sou sobrevivente, as pessoas afastam-se como se eu tivesse alguma doença contagiosa", confessa um idoso de 87 anos, voz embargada.
E não é só isso. Os problemas de saúde persistem, teimosos:
- Taxas de câncer até 10% maiores que a média
- Problemas cardíacos aparecendo tardiamente
- Traumas psicológicos que atravessam gerações
O peso do silêncio
Curioso como algo tão monumental pode ser varrido para debaixo do tapete, não? Durante décadas, muitos sobreviventes mantiveram suas histórias engasgadas na garganta — uns por trauma, outros por pressão social. Até hoje, alguns se recusam a falar sobre aquela manhã de agosto.
Mas há luz no fim do túnel. Iniciativas como o Museu da Paz de Hiroshima e projetos escolares tentam manter viva a memória do que aconteceu. Porque, convenhamos, esquecer seria o segundo desastre.
Enquanto isso, os hibakusha seguem sua batalha silenciosa — contra o tempo, contra o preconceito, contra a indiferença. Afinal, como diz um velho provérbio japonês: "A água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Só que, neste caso, a pedra é pesada demais.