
Numa sacada tão afiada quanto seus versos mais célebres, Gilberto Gil jogou uma luz fascinante sobre o Brasil de hoje. O país, segundo ele, deu um salto quântico em maturidade desde os tempos sombrios da ditadura militar. E o termômetro dessa evolução? Justamente a capacidade das instituições de levarem a julgamento — de forma aberta e legal — uma trama golpista.
Numa conversa que misturava a serenidade de quem já viu tudo com a paixão de quem ainda acredita, o artista baiano e ex-ministro da Cultura não poupou elogios ao sistema de Justiça. O Ministério Público Federal (MPF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) estão, nas suas palavras, "fazendo o dever de casa da democracia".
O Passado que Não Deve Voltar
Gil viveu na pele os horrores do regime autoritário. Exilado, censurado, calado. Por isso, sua fala tem um peso diferente. Ele lembra que, antigamente, qualquer tentativa de questionar o poder era varrida para debaixo do tapete — ou worse, punida com violência e repressão. O simples fato de hoje existir um processo judicial transparente sobre um evento tão grave é, por si só, uma vitória colossal.
"A gente amadureceu," refletiu, com aquele jeito tranquilo que só os sábios têm. "O país aprendeu que a resposta para a ameaça à democracia não é o silêncio, mas a lei."
Justiça em Movimento
E não é que ele tem razão? Enquanto o processo corre na justiça — com direito a defesa, contraditório e ampla publicidade —, a sociedade acompanha, debate e, acima de tudo, aprende. Isso é educacional, quase pedagógico. Mostra para as novas gerações que tramas contra o Estado Democrático de Direito não ficam impunes.
Gilberto Gil vai além: pra ele, isso fortalece a confiança nas instituições. É sinal de que o sistema está funcionando, mesmo quando dói, mesmo quando mexe com figuras poderosas. É a tal da normalidade democrática que a gente tanto ouviu falar nas aulas de história — e que agora vive de verdade.
Numa era de polarização extrema e fake news, o recado do artista é um oásis de lucidez. O Brasil pode até tropeçar — e como tropeça —, mas está aprendendo a cair pra frente. E isso, meu friend, é talvez a maior conquista de todas.