
Parece piada, mas é a pura verdade. A Academia Brasileira de Letras, aquela instituição centenária que a gente imagina cheia de senhores de terno debatendo poesia e romances clássicos, resolveu dar um golpe de mestre. Eletrizou o mundo literário ao eleger ninguém menos que John le Carré — sim, o famoso ex-agente secreto britânico — como seu mais novo membro correspondente.
Não, você não leu errado. E a justificativa? Ah, essa é de cair o queixo.
Um espião entre os doutores
A escolha, anunciada nesta quarta-feira, pegou todo mundo de surpresa. Como assim um escritor de thrillers de espionagem — por mais brilhante que seja — vai sentar na mesma mesa que gigantes como Machado de Assis e Graciliano Ramos? Pois é exatamente isso que está acontecendo.
Os acadêmicos saíram com uma explicação que mistura lábia política com uma dose generosa de rebuscamento intelectual. Segundo eles, le Carré não era "apenas" um contador de histórias de suspense. Era um "crítico ferrenho do poder estabelecido" e um "analista profundo da alma humana". Quer dizer, na prática, transformaram um mestre das narrativas de espionagem em um quase-filósofo contestador.
O jogo político por trás das cortinas
Mas vamos combinar uma coisa — ninguém aqui nasceu ontem. A decisão tem cheiro de estratégia calculada. A ABL, vamos ser sinceros, anda meio apagada no radar do grande público. Que melhor maneira de ganhar holofotes do que eleger uma figura internacionalmente famosa, ainda que polêmica?
É aquela velha história: ou você se reinventa ou vira peça de museu. E os imortais parecem ter escolhido a reinvenção, mesmo que isso signifique virar algumas caras puristas do meio literário.
O que dizem os críticos
Claro que a polêmica estava garantida. De um lado, os defensores da tradição torcem o nariz. Acham que a Academia está vulgarizando seu próprio patrimônio cultural. Do outro, os moderninhos aplaudem de pé — finalmente a instituição estaria "saindo da idade da pedra" e reconhecendo gêneros literários além do cânone tradicional.
O fato é que a discussão está feita. E convenhamos — não há melhor publicidade para uma instituição cultural do que uma boa e saudável polêmica.
O legado de le Carré e o paradoxo brasileiro
O mais irônico de tudo? John le Carré, pseudônimo de David Cornwell, morreu em 2020 sem saber que viraria um "imortal" tropical. Durante vida, o autor sempre navegou entre dois mundos: o dos serviços secretos britânicos e o da literatura de alta qualidade.
Sua obra, repleta de complexidade moral e cinza político, de fato vai muito além do entretenimento superficial. Mas será que isso basta para um assento entre os maiores nomes das letras brasileiras? A pergunta fica no ar — e a resposta, cada leitor terá a sua.
Uma coisa é certa: a poeira vai demorar para baixar. E a Academia, que parecia condenada ao esquecimento, de repente voltou a ser assunto. Coincidência? Difícil acreditar.