Porto Alegre dá passo histórico: vereadores aprovam cotas para pessoas trans no serviço público
Porto Alegre aprova cotas para trans no serviço público

Era uma daquelas votações que fazem história — e ninguém na Câmara Municipal de Porto Alegre queria perder. Na tarde desta terça-feira (6), os vereadores deram um passo que vai mudar vidas: aprovaram, por ampla maioria, a reserva de vagas no serviço público municipal para pessoas trans.

Não foi fácil chegar até aqui. A proposta tramitou por meses, enfrentou resistência, mas ontem finalmente virou lei. E olha que interessante: o projeto recebeu votos favoráveis até de bancadas que normalmente não se alinham em temas progressistas.

Como vai funcionar na prática?

Pois bem, a partir de agora, 2% das vagas em concursos públicos da prefeitura serão reservadas para pessoas trans. Parece pouco? Pode apostar que não é. Essa porcentagem — que alguns acham modesta e outros consideram ousada — representa uma porta que se abre para quem sempre foi empurrado para as margens.

"É uma reparação histórica", disparou a vereadora Laura Sito (PT), autora da proposta, com os olhos marejados. "Quantos talentos perdemos porque pessoas trans eram barradas antes mesmo da entrevista?"

  • Vagas em todos os níveis: do administrativo ao técnico
  • Reserva válida para concursos com 3 ou mais vagas
  • Candidatos devem comprovar identidade de gênero através de autodeclaração

Ah, os detalhes! A lei prevê que, se não houver candidatos trans aprovados em um concurso, as vagas voltam para o cadastro geral. Nada de desperdício, como bem frisou o relator da matéria.

O outro lado da moeda

Claro que houve vozes dissonantes. Dois vereadores argumentaram que "cotas dividem a sociedade" — discurso batido que já conhecemos. Mas convenhamos: quando direitos básicos são tratados como privilégio, tem algo muito errado na foto.

O mais curioso? A bancada evangélica se dividiu. Enquanto alguns repetiam o mantra da "ideologia de gênero", outros lembravam que inclusão social está nos princípios cristãos. No final, até quem votou contra reconheceu: o debate está mudando.

"Não é esmola, é oportunidade", resumiu uma ativista trans no plenário lotado. E como ela tem razão. Afinal, quantos de nós já paramos para pensar como deve ser enviar currículos sabendo que seu nome social pode ser seu primeiro obstáculo?

Porto Alegre não é a primeira, mas entra para um seleto grupo de cidades que entenderam: diversidade não é modismo, é construção social. E o serviço público — que deveria espelhar a sociedade — finalmente começa a acertar o passo.